O Hamas capturou mais de uma centena de reféns judeus, na maioria israelitas, mas também de outras nacionalidades. Com eles está a fazer o jogo da ameaça mortal, tentando deter a avalancha militar que vem de Israel. Todos os reféns são vidas preciosas, apanhadas de surpresa numa incursão terrorista inimaginável, e são, tradicionalmente, os únicos com que nos preocupamos. E os outros?
A Faixa de Gaza, que tem o tamanho da cidade de Lisboa (não é área metropolitana) é habitada por 2.1 milhões de pessoas, o que quer dizer que cada quilómetro quadrado tem 5 mil habitantes. É das zonas mais povoadas do mundo. Vivem em condições extraordinariamente difíceis, sustentados pela ajuda internacional, que cai nas mãos do Hamas e a distribui como bem entende. E todos sabemos o que isso quer dizer.
Estes dois milhões são os reféns permanentes do Hamas. Mesmo que meio milhão seja convictamente militante, a restante população luta diariamente pela sobrevivência, no limite da existência, sendo que o PIB per capita diz tudo: 900 dólares por ano! Ali não há riqueza, tirando os 40 ou 50 mil terroristas que compõem a força armada do grupo, obediente à teocracia de Teerão, e que terá todos os privilégios e mordomias. Até acabarem, um dia destes.
E essa é a estratégia política e militar de Israel: esta guerra só terminará quando o Hamas deixar de existir como força militarizada, organizada, e com o poder de vida e morte sobre dois milhões de reféns. Gaza tem de voltar ao domínio da Autoridade Nacional Palestiniana, a única reconhecida internacionalmente, e este objetivo israelita pode abrir as portas a um entendimento entre judeus e palestinianos. O Exército israelita vai fazer o que a Fatah não conseguiu: acabar de vez com o Hamas, e se a oportunidade surgir, como eventualmente até quer Jerusalém, destruir o Hezbollah. Depois, finalmente, olhar de frente para Teerão.
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