Przemysl (Polónia – fronteira com Ucrânia). 22.55 hora local (21.55h em Portugal): Há, no ar, um cheiro a alerta. Não é angústia nem apreensão, mas a certeza de que as próximas 10 horas serão únicas. É um comboio com muitas carruagens, azuis e prateadas, que ostentam o «tridente» ucraniano. O destino é Kiev. Três carruagens, as primeiras, estão reservadas para Portugal. Connosco também vai a Lituânia. E Finlândia. Nas carruagens seguintes. Para a cimeira da «Plataforma da Crimeia».
Há, no ar, um cheiro a segurança máxima. As forças especiais polacas, uns militares gigantes, e armados até aos dentes, literalmente, vigiam o comboio. Outros inspecionam as carruagens. Os Destacamentos de Segurança Pessoal do Presidente da República, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, acompanham os procedimentos. Nada escapa.
O Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e a comitiva restrita – Chefe da Casa Civil, Fernando Frutuoso de Melo, o chefe do Protocolo de Estado, embaixador Jorge Silva Lopes, a Consultora Diplomática do PR, embaixadora Maria Amélia Paiva, as duas ajudantes de campo, a major do Exército, Fátima Costa, e a major da Força Aérea, Filipa Carvalho, o médico do PR, Afonso Oliveira, e o chefe dos serviços de Segurança da Presidência, superintendente Luís Carrilho, mais o comissário Pedro Frias e o chefe Miguel Corrondo – percorrem rapidamente o cais de embarque, já noite dentro no Leste da Polónia. Tinham acabado de chegar de um aeroporto local e especial, a uma hora de distância.
Nesse cais confirma-se, visivelmente, a entrada iminente do nosso comboio num país em guerra: as ajudantes de campo do Presidente trocaram as fardas de gala, por camuflados de combate. A Polónia vai ficar para trás. Distante. O corpo de segurança nacional está armado. Discretamente. Mas preparado.
Quatro «torres» polacas, das quais só se viam os olhos, abrem e fecham a «bolha» de segurança presidencial. A entrada é rápida, e o caminho para Kiev inicia-se. Na hora da Ucrânia, ali a alguns quilómetros, já era quase meia-noite. O comboio avança lentamente, e rapidamente, com paragens em locais incertos, no meio da escuridão. Cada membro da comitiva tem um compartimento cama, exíguo, confortável, com ar de novo, e abafado. Há janelas que não abrem. Cortinas opacas e fechadas. Há pastéis de nata – uma delicadeza inesquecível – e belas sandes, sumos e águas. A embaixada portuguesa na Polónia só merece elogios.
«Sou o chefe da Segurança do senhor Presidente da República. Temos connosco os coletes à prova de bala. Não se preocupem. Se necessário serão distribuídos. Não estamos nesse nível de alerta, por agora. Boa viagem e descansem. Até Kiev!»
Amanhã: De Lisboa a Varsóvia
Notas de rodapé: 1. João Soares e José Pacheco Pereira foram companheiros inesquecíveis. Deles escreverei amanhã. Disse-lhes, aliás, que os iria evocar, ou invocar, repetidamente, nestas notas. Aprendi com eles o que nunca percebi durante décadas. Excelente.
2. Infatigáveis e soberbos os membros do Protocolo do Estado, tanto do PR, como do MNE. Do princípio ao fim.
3. Seguros e atentos os membros dos Destacamentos de Segurança do PR e do MNE. São de elite. Do melhor que há. Já o tinham demonstrado na proteção ao Papa Francisco, durante as JMJ.
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