O Presidente Jorge Sampaio teve o seu momento mais sublime, transcendente, incomparável, numa entrevista à CNN, em 1996, sobre Timor-Leste. Era o dia do Nobel da Paz, atribuído a D. Ximenes Belo e a Ramos Horta, e foi nesses escassos minutos, e perante a tragédia sem fim que se vivia naquele território, ocupado pela Indonésia, que Sampaio se elevou à dignidade, rara e magnifica, de conseguir, pelo impacto das suas palavras, o direito de os timorenses escolherem livremente o seu destino.
Jorge Sampaio foi de uma simplicidade suprema: a Indonésia tem de aceitar fazer um referendo, livre e justo, supervisionado pelas Nações Unidas, que permita aos timorenses escolher o seu futuro. Foi esta mensagem, este pedido, este apelo, repetido vezes sem conta pelo Presidente, que obrigou Jacarta a fazer o referendo, em 1999. As palavras de Sampaio, pronunciadas com grande serenidade, levaram chefes de Estado decisivos, e a ONU, a virar a Indonésia.
Timor-Leste sabe, e isso foi relembrado vezes sem conta nestes dias, que a sua independência e liberdade se deveu ao esforço permanente e intenso do Presidente da República. Foram décadas de guerrilha, de ações armadas indonésias, e de milhares de mortos, e Portugal, através do seu chefe de Estado, conseguiu redimir-se da fuga, do abandono, e da guerra civil que deixou naquele território, em 1975. Essa redenção coletiva sentiu-se, e viu-se, quando o bispo de Díli veio a Lisboa, no final de 99. Espontaneamente, desde o aeroporto até ao Colégio dos Salesianos, milhares de portugueses saudaram, com lenços e panos brancos, a passagem de D. Ximenes Belo. Portugal, naquele momento, estava a pedir perdão pela tragédia que deixara acontecer.
Agora, neste momento, não interessa analisar o que foram os 10 anos de Jorge Sampaio como Presidente da República. O que ficará na História, sublinhado, sem nenhuma dúvida, será sempre a luta titânica, indomável e inabalável de Jorge Sampaio pela independência de Timor-Leste. Nenhum outro Presidente alcançará esta grandeza.