Não havia uma forma limpa do presidente Biden sair de Cabul, ou abandonar caoticamente, sem um preço pessoal e político avassalador, e ainda não estamos no dia 31. As explosões na zona do aeroporto, que vitimaram americanos e afegãos – e que se sabia que estavam na iminência de acontecer – tornaram a fuga dos EUA num horror, que poderia ter sido evitado, com planeamento, tempo e, acima de tudo, avaliando a efetiva motivação e capacidade das forças militares afegãs, para manterem o país seguro, sem o guarda-chuva militar dos EUA e aliados.
Uma derrota deste calibre, e uma retirada cada vez mais desordenada e agonizante, e agora já aterrorizante, e com militares mortos, e afegãos inocentes, só reforça a imbecilidade de Biden, do seu plano, e de quem o aconselhou. Foi tudo mal feito, e agora não há saídas. A perceber-se pelas declarações do Boris Johnson, marcando o tom, o que interessa agora é fazer tudo para acelerar a saída, incluindo dos militares, porque o peso político de ter mais vítimas entre as tropas, e cidadãos que ainda lá estão, é destruidor de uma presidência ou de uma chefia de um Governo. Agora sim, é a fase do «salve-se quem puder».
Biden está transtornado, perdido e incapaz de decidir com alguma lucidez. Biden, que jurou que saiam a 31 de agosto, e que não admitia nenhuma provocação, está agora refém da sua própria data, e numa posição em que não pode, nem quer, controlar os acontecimentos no perímetro exterior do aeroporto, mas na zona controlada pelos seus militares. Se fosse possível, embora nunca venha a admitir, acabava com tudo hoje. Agora. Imediatamente. Fugia de Cabul, como o ex-presidente afegão. E ainda faltam cinco dias de pavor, pânico e eventuais atentados e ataques.
O que é que os talibãs, ou o ISIS-K, têm a perder? Nada, de todo. Tudo o que fizerem, ou mandarem fazer, só agigantará a sua vitória contra os EUA, aliados, e o exército de papel, e de ficção, criado, financiado e equipado por Washington. Os trunfos estão todos nas suas mãos, e eventuais associados. Agora dizem que não foram eles, e lamentam, mas não tardarão em gabar-se da humilhação que infligiram às mais poderosas e eficazes forças armadas do mundo.
Os talibãs conseguiram o impensável: aterrorizar o presidente dos Estados Unidos. Que só quer fugir, descansar, e acabar com este tormento. É obrigatório invocar Obama, uma vez mais. Ou todas as vezes que forem necessárias: ««Don’t underestimate Joe’s ability to f… things up». Tudo dito!
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