O voo é impressionante. O regresso impecável. O foguetão volta à base, aterra na vertical, e a cápsula imita a queda da Apollo. «Prime time» na televisão mundial e nos meios digitais. Tal como Richard Branson, Jeff Bezos deu o corpo à experiência. Sem medo, nem arrependimento. Terão sido, sem nenhuma dúvida, os 11 minutos mais extraordinários e inesquecíveis da sua vida, e dos outros três astronautas.
Mais fabuloso, aliás, porque tudo aquilo tem um ar de loucura. Um cheiro. Uma imagem. Desde logo pelo aspeto fálico daqueles 18 metros – que caramba! (não é possível dizer mais) – e depois porque ninguém vai lá dentro a fazer coisa nenhuma. Não tem pilotos, ou astronautas a sério, nem sequer, no mínimo, um simples mecânico para apertar parafusos. Nada. Quatro passageiros sozinhos, comandados por um programa informático, que deve ter 55 redundâncias.
Montar naquilo e arrancar para o espaço é de arrepiar. A Virgin Galactic até tem um aspeto de avião de luxo, com pilotos, mas este Origin Blue é um edifício redondo apontado para o céu, com umas janelas no topo, para ver as estrelas. É uma nave de loucos, mas com sucesso. Falta o SpaceX de Musk, uma cópia de um míssil, mas que já deu inúmeras barracadas. Tal como o dono.
Bezos, o mais rico do mundo, e que vai ser ainda mais – é não sei quantas vezes o PIB de Portugal – fez tudo para o melhor e pior. Saiu da empresa, redigiu o testamento, e aos seus deve ter dito: «vemo-nos no Céu». Depois pôs o chapéu de cowboy, montou no touro enraivecido, e lançou-se no infinito. Voltou uns minutinhos depois. Feliz, realizado e estupefato. Nunca pensou que ir e voltar do espaço era tão simples. Como dar uma volta ao quarteirão. Ou beber um café numa esplanada. Acho que tenho de ir ao espaço!