Este Governo tem dias. Ou está em estado de delírio, com alucinações, ou momentaneamente volta ao mundo real, do qual tenta sempre escapar. Isto é esquizofrenia política. Não tem cura, mas é controlável. Há pastilhas que ajudam.
Para determinados ministros deste Governo, a realidade é penosa, uma grande chatice, que mais vale fugir dela. E pior quando vem o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, que saiu dessa realidade, dizer três coisas muito animadoras: as pessoas e empresas que se preparem para o fim das moratórias, este movimento vai gerar um aumento do crédito malparado, e os setores que foram mais atingidos terão maiores dificuldades. Que setores? O país inteiro foi atingido, em cheio, e ainda se acha que é possível distinguir uns dos outros. É a parte do delírio e da alucinação.
Grande análise. Nunca ninguém tinha pensado nisso. Postas as coisas nestes termos, o governador deveria ter trazido soluções. De crises está o país farto. Mas nenhuma, porque, de facto, qualquer governador é apenas um procônsul do BCE. Mas sem nenhuma autoridade.
O Governo tem, de imediato, um país com três problemas graves, tão graves como a variante Delta, e não faz nada. Ou não quer, ou não sabe, ou não está interessado. Por agora só quer o dinheiro da UE, depositado no banco.
Um quarto do PIB nacional, e quase três vezes o valor da subvenção para o PRR, está em moratórias. Qual a razão para não fazer o que o próprio Estado faz, a quem deve: transforma, reformula, e dilata o tempo de pagamento. O Governo passa a vida a reestruturar a dívida nacional, e não consegue decidir que as moratórias, que têm de acabar, devem, todas, ser objeto de reestruturação? Ajuda?
E o mesmo se aplica às dívidas do Estado aos seus fornecedores, que continua a ser insuportável, e o contrário, que são as dívidas das pessoas e empresas ao Estado, que nesta pandemia também se tornaram insustentáveis. Para o primeiro caso vai ajudar, e muito, espera-se, o dinheiro que entrar no banco, mas para o outro grande problema continua sem se fazer, um ano e meio depois do início sem fim da pandemia, um plano especial para o pagamento das dívidas ao Estado, a longo prazo, sem coimas nem juros. Nem precisa de justificação. Não será esta a forma mais prática e direta de ajudar todos os portugueses, rápida e indistintamente? Como fez o ministro Centeno, em 2016? E havia alguma pandemia? Alguma vez o país esteve fechado em estado de emergência?
Há, neste Governo, uma mistura de realidade e irrealidade. De esquizofrenia não controlada. Ora está exuberante, ora está deprimido. As crises avolumam-se, o tempo esgota-se, os alertas são cada vez mais pressionantes, mas ele – que nos governa – está ausente.