A preocupação com o fim das moratórias, públicas e privadas, cresce exponencialmente à medida que o fim se aproxima. Os bancos estão muito inquietos, deputados, especialistas e os melhores economistas, de todas as aéreas, alertam para o desastre, ou colapso, e da parte do Governo a única palavra que se ouviu, há dias, foi do ministro da Finanças a desculpar-se com os mecanismos bancários europeus. E também foi dizendo que o prolongamento das moratórias poderia levar a que as empresas e famílias pudessem ficar «marcadas» no seu rating bancário. Isto é espantoso: a própria EBA diz que está muito preocupada com os 320 mil milhões (Portugal representa apenas 15 por cento) em moratórias na União, e com a visível degradação da situação financeira dos países e pessoas. Será que alguém leu esse relatório? Ouviu esse alerta? O que não dá é invocar a EBA para não prolongar, quando ela própria está com medo. Que tal falarem uns com os outros?
Depois da leve ameaça, o ministro também mostrou uma inabilidade e insensibilidade sem limites. O que o ministro deveria dizer, para além de pressionar a EBA, era que certamente teria de ser reapreciado o calendário e a forma, e que nunca antes de um ano que comece normalmente, como eventualmente 2022. Que tal dar uma olhadela à categoria do furacão? Portugal, entre públicas e privadas, tem 46 mil milhões de euros em moratórias e, para termos uma noção do tamanho, este valor representa um quarto do PIB nacional. Será que isto não assusta? É melhor repetir: 46 mil milhões é o valor das moratórias que terminam em Setembro. Este valor é quase quatro vezes superior à «bazuca» europeia, em subvenções, e representa quase um quarto de toda a riqueza nacional gerada num ano. Não é preciso dizer mais nada.
O país está a terminar o estado de emergência, os primeiros quatro meses deste ano estão perdidos, foram um desastre económico e financeiro, a execução orçamental é a primeira a ressentir-se, e a única grande e total preocupação do Governo, nesta área, é tentar receber o mais depressa possível os 14 mil milhões de subvenções da União, e mais algum que vai pedir emprestado. Tudo o resto é uma chatice. Sempre a falarem das moratórias. Que inconveniente.
Já tínhamos percebido que este Governo se esqueceu que era socialista. E também já se esqueceu que garantiu 80 por cento do valor das moratórias públicas, que terá de pagar em caso de incumprimento, falhanço, implosão ou desastre. Será que ainda não fizeram as contas? Será que ainda não perceberam que as moratórias lhes vão cair na cabeça? A ingenuidade, ou coisa parecida, do ministro das Finanças, na Comissão da AR, foi gritante: confia, acredita e acha que vai tudo começar a correr bem no país, ainda este ano, e que a recuperação económica será vertiginosa. Por isso nenhuma preocupação com essas «coisas», as moratórias. Estava a falar de Portugal? Era o ministro das Finanças de Portugal? Com o equivalente a um quarto do PIB nacional com grande risco (PIB de 2020, sendo que estamos para ver qual vai ser o de 2021), que implode qualquer sistema bancário, em qualquer país, a solução do Governo é fazer coisa nenhuma? Ou melhor: «vejam lá se pagam!»
Mesmo a propósito: hoje, o Tesouro fez uma operação de alteração de maturidade de dívida, no valor de 983 milhões de euros, para os anos de 2028 e 2034. E fez bem. O princípio não é o mesmo?