A União Europeia, finalmente, está a tomar as decisões certas na vacinação, e confirmando-se o reforço na compra de mais 600 milhões de doses à Pfizer/Biontech, a serem entregues a um ritmo acelerado, poderemos estar à beira de um acontecimento notável: ter a imunidade de grupo no início do Verão, finais de Junho, nos 27 países da UE. Três fatores decisivos podem explicar esta reviravolta.
- O mais importante, e que decide tudo, ou quase, neste calendário, é o facto de os Estados Unidos, em particular, estarem a atingir a imunidade de grupo dentro de muito pouco tempo – embora com variações de estado para estado – e isso liberta milhões de doses da Pfizer e Moderna para a Europa. Obviamente que o tempo também foi ajudando e concertando os esforços de produção das duas farmacêuticas, sem contar, apesar de tudo, com a Astra e a Jonhson, que com restrições estão a ser administradas. Moral desta história: quem tem poder científico e poder financeiro, e muita capacidade de pressão política, consegue ser o primeiro. Está a ser nos EUA, mas também foi na Grã-Bretanha. Só mais um dado extraordinariamente relevante: Washington, desde Trump, investiu biliões de dólares na investigação e produção, em troca das vacinas.
- O segundo fator, que tem a ver com a Comissão, foi a viragem que fez há uns dias, quando deixou de se preocupar com as manchas negras da Astra e da Johnson, e virou-se, com tudo o que tinha, para a Pfizer/Biontech e Moderna. A que tem maior capacidade de produção é a Pfizer, e contando com o primeiro fator, isso acelera exponencialmente todo o processo de vacinação na Europa. O problema da Comissão, para além de ter de lidar com 27 sensibilidades, foi comprar à cegas, milhões e milhões de doses, o mais barato possível, sem ter acompanhado ou investido em nenhuma delas. Moral da história: 440 milhões de habitantes, com o poder que daí resulta, ficaram reféns de um mercado que ainda não tem regras, e o mais importante órgão executivo da União foi disparando para todos os lados para ver se acertava. Mesmo que se cumpra esta notícia fabulosa, esta Comissão é para esquecer.
- E por último, mas não menos importante, foi a pressão interna de cada um dos 27, com muitos a tentar outras compras fora do mecanismo conjunto, que funcionou como o alerta vermelho que fez a Comissão apostar no que é mais seguro, rápido e confiável. Para 2022 a Comissão já avisou que não vai comprar Astra e Johnson, não tanto pelos problemas associados, mas por falharem consecutivamente as entregas prometidas. Ainda bem. Finalmente um murro na mesa. Moral da história: tivesse a União investido na fase de investigação das vacinas, e acompanhado a sua evolução, e hoje estaríamos como Israel, Grã-Bretanha e EUA, entre outros. Nunca é tarde para se aprender, mas esse tempo perdido representou, e ainda representa, milhares de mortes injustificadas e desnecessárias.
Se a Comissão falhar esta oportunidade, esta janela que se abriu, então demitam-nos por incapacidade, incompetência e inabilidade. É com total justa causa.