Os portugueses, 13.500, em pouco mais de 24 horas, doaram 200 mil euros, através do “Gofundme”, coisa que o Infarmed, com os seus milhões do Estado, e de todos nós, não conseguiu nos últimos tempos, nos últimos dias, nas últimas horas, para ajudar Constança Braddell, de 24 anos, com fibrose quística, em fase crítica. Há um novo medicamento de uma farmacêutica norte-americana, aprovado pela FDA e EMA, que custa 15 mil euros por mês, 200 mil por ano, e o Infarmed, na sexta feira, depois de um apelo dramático da doente – “não quero morrer!” – e do impacto na Comunicação Social, afirmou, calmamente, que “tem toda a disponibilidade para analisar o processo”. E no “mais curto espaço de tempo”, se é que alguém decifra esta mensagem enigmática.
Um Infarmed assim, serve para quê? E para quem? Como Constança existirão dezenas ou centenas de doentes no mesmo estado, e bom seria que nos dissessem quantos já tiveram acesso a esses comprimidos (sim, são comprimidos). Os milhões do OE servem para quê, já agora? E quem atura a displicência burocrática deste organismo, que para justificar a inação diz que “aguarda que o pedido seja submetido pelo Hospital de Santa Maria”! Devem estar a gozar com todos.
No estado crítico em que se encontra Constança, cada dia que passa, ou hora, pode ser fatal. Não há cura para a fibrose quística, mas este novo medicamento, que é uma combinação de três drogas, pode dar o que a jovem não tem: melhorar, aguentar, estabilizar e acreditar que vão descobrir uma cura.
Se é para ter este tipo de resposta, o que não é nenhuma novidade (que o digam os pacientes oncológicos que dificilmente têm acesso às novas drogas potenciadoras do sistema imunitário, cuja eficácia tem sido extraordinária) mais vale acabar com o Infarmed. Os hospitais que comprem diretamente os medicamentos inovadores, custe o que custar. É só disso que estamos a falar. Esta burocracia não é inata, é uma forma de empatar. De poupar. De deixar morrer.
Será que o Infarmed, ou o Estado, não tem vergonha que 13.500 portugueses resolvam, pelos seus próprios meios, em 24 horas, o que deveriam ter feito há muito tempo. Claro que se passassem mais uns dias, poucos, o medicamento já não seria preciso. Tenham vergonha.