Nota do «impeachment»: John Roberts, o juiz presidente do Supremo dos EUA, já informou o Senado que não vai presidir, como lhe competiria, ao processo de destituição de Trump. Para Roberts, como se previa, a Constituição americana é curta e clara: o «impeachment» só se aplica a um (sitting) presidente em exercício. Esteve no primeiro, mas não aparece neste. Deveria ser motivo para os democratas ponderarem, mas estão noutra. Vão em frente nesta comédia, que só danifica o prestígio do Senado. A segunda destituição de Trump já morreu. E a estocada final vem o chefe do Supremo, cujo dever primário é zelar pelo cumprimento da Constituição.
Francisco Santos continua líder do CDS, com a maioria do Conselho Nacional, mas sendo tão escassa e tangencial não há liderança que aguente. Só o facto de o Conselho levar 16 horas para votar já era um sinal de divisão profunda no partido. Quem é forte, quem lidera de verdade, quem tem o partido nas mãos não se sujeitaria a uma moção de confiança, e muito menos aprovada com 54 por cento dos votos. É uma vitória, mas inútil e passageira. Do Conselho Nacional saiu um aviso sério ao líder: ou rapidamente agarra o CDS e o seu eleitorado, ou o Congresso extraordinário acontecerá.
O CDS, com esta ou a próxima liderança, precisa de ser recolocado no espaço ideológico que foi seu: a direita liberal, democrática, popular e populista, com compaixão, mas forte nas suas exigências e atrevido no posicionamento político. O CDS tem de estar seguro e convencido que sabe o que defende e valoriza, sem se acomodar a ser o irmão mais novo do PSD, que só serve para resolver pequenas conquistas eleitorais. Quanto mais o CDS se encostar ao PSD – que curiosamente também precisa de se realinhar ideologicamente – mais rápido será o seu desaparecimento. O que não faz nenhum sentido, diga-se.
É verdade que os partidos tradicionais, sem capacidade de inovação nem um discurso adaptado à realidade, estão a ser encostados à parede, e a autodestruição, ou autofagia, é o sintoma dominante dessa incapacidade. Ou esses partidos têm lideranças carismáticas, populares, cativantes, e um discurso político vivo e eficaz, ou a sua grandeza, força e história vai-se perdendo a favor de partidos mais agressivos e atentos aos sabores dos novos e velhos eleitorados.
Francisco Rodrigues dos Santos não conseguiu reorientar o partido, e seguramente que já não o vai fazer. Agora só tem meio partido, e meio de quase nada é nada. Adolfo Mesquita Nunes tem toda a razão na antecipação da tragédia: o CDS está a lutar pela sobrevivência, e assim, como tem estado, não se vai safar. E esperar muito mais tempo, para voltar à sua «casa», pode ultrapassar a linha a partir da qual muito poucos conseguem regressar.