1 – Lisboa ter sido escolhida para a final especial da Champions é, sem nenhuma dúvida, um grande êxito nacional, do nosso selecionador, da Federação, do presidente da Câmara Municipal de Lisboa e do Governo. Por uns dias, em agosto, estaremos supostamente no centro do mundo, e isso é sempre muito importante para Portugal. Poderá ajudar, certamente, na recuperação de um estado de espírito mais positivo. Este é o lado bom desta escolha.
2 – O lado mau é o sentimento de incómodo que gera. Dá a ideia de que a escolha, tão rápida e instantânea, foi um presente pouco simpático: mais ninguém queria, em boa verdade, e atiraram para cima de nós, que estamos disponíveis, para acharmos que somos os maiores. Obviamente que em situação normal nunca seriamos escolhidos, mas numa pandemia, vale tudo e somos aproveitáveis. E isso não é motivo, digo eu, para um grande orgulho. Não é uma prova de que somos os melhores. Assim, à primeira vista, atiraram a responsabilidade para o lanterna vermelha. Basta ler o que diz a o grupo EndCoronavirus.org, aqui no site da VISÃO.
3 – Infelizmente, nesta escolha, existe ainda um lado péssimo. Se vai ter público, nacional e estrangeiro, então vamos objetivamente ajudar à progressão da pandemia em Lisboa. É inadmissível. São aviões e aviões a chegarem à Portela, sem nenhum tipo de controlo eficaz, que previna a transmissibilidade da Covid-19. É total, completa e absoluta loucura sanitária. Por acaso alguém teve isso em conta, quando se ofereceu para a final da Champions? A UEFA tem algum plano, inédito, e eficaz, de contenção, ou, simplesmente, lava as mãos disso? E mesmo sem público a assistir, ou muito limitado, existirá sempre um elevado risco de contágio. Esta escolha, que tem a aparência de ser um grande presente para Portugal, vai resultar nisto: eles trazem a bola e o vírus, jogam 90 minutos, e vão embora a correr. Nós ficamos com lixo radioativo.