Ultrapassado o circo mediático que presidiu à campanha eleitoral e, posteriormente, à eleição do presidente da Assembleia da República, é tempo de se entrar na normalidade, independentemente da roupagem que revista cada um, desde que democrata.
Em plena época pascal, foi apresentado o novo executivo governamental e, muito embora não o considere ideal, dando o benefício da dúvida independentemente de linhas ideológicas, agrada-me o facto de, tirando uma ou outra exceção, todos os indicados terem “respaldo” ou seja, terem provas dadas na sociedade civil, à qual poderão regressar a qualquer momento. Trata-se duma enorme vantagem porquanto confere aos detentores destes cargos uma liberdade de decisão que lhes estaria negada caso a sua carreira estivesse exclusivamente alicerçada nos meandros partidários.
Isto dito, preocupa-me o futuro da política migratória que foi, aliás, o grande tópico ausente da discussão de toda a campanha.
Reconheço que a política migratória é um tema sensível porquanto exacerba os ânimos mais populistas e pode levar à perda de votos em debates. Mas ignorar o assunto é apenas alimentar o elefante na sala e não resolve a questão de fundo: que política migratória pretendemos ter de ora em diante?
Hoje em dia, trata-se não apenas duma questão interna, mas cada vez mais dum assunto escaldante de política externa.
Reconheço que a política migratória é um tema sensível porquanto exacerba os ânimos mais populistas e pode levar à perda de votos em debates. Mas ignorar o assunto é apenas alimentar o elefante na sala e não resolve a questão de fundo: que política migratória pretendemos ter de ora em diante?
Vivemos duas guerras no Ocidente e muitas mais no continente africano. Estas últimas levam já décadas. As duas primeiras ameaçam seguir-lhes o exemplo numa escalada que não conseguimos prever.
Estes conflitos, aliados aos gravíssimos impactos das alterações climáticas em África, criam vagas de deslocados que não podemos ignorar e muito menos refrear com barreiras e mão de ferro.
Disse-o, escrevi-o e volto a fazê-lo: não há nada, nada que trave uma multidão em desespero!
Daí que esta questão merecerá, estou certa, uma atenção especial do novo ministro dos Negócios Estrangeiros, conhecedor como é das políticas europeias nesta matéria.
Com a autoridade que creio poder, sem receio, reclamar permito-me sugerir ao novo executivo para que a AIMA passe a estar sob a tutela do MNE. Digo-o enquanto ex-presidente do SINSEF, o sindicato do extinto SEF que mais lutou, não pela extinção do serviço – note-se! –, mas sim pela separação entre parte documental e a parte policial. Digo-o por ter sido a primeira pessoa a ter falado publicamente, quer num congresso na Batalha, quer na comunicação social, da necessidade da criação duma Agência para a Migração com um foco mais centrado na integração (posição que me granjeou graves dissabores, quer a nível pessoal, quer profissional) e digo-o ainda enquanto académica..
Nada mais natural, se pensarmos que é aquele ministério quem, em última análise, tem a responsabilidade de promover a migração regular ao emitir nos seus diversos consulados os vistos necessários para o efeito.
Acresce que toda a política diplomática assume diferentes aspetos que vão desde o contacto e a proteção dos nossos emigrantes na diáspora, até à promoção da língua e cultura portuguesa através do papel do Instituto Camões, passando pela política de promoção económica.
Migração é, aliás, a palavra que junta a imigração e a emigração. Nada mais natural que estarem ambas sob a mesma tutela. Evitar-se-ia em grande parte as andanças de Herodes para Pilatos (alegoria perfeita para o momento) e a consequente e tão nacional tendência para o passa-culpas que faz o desespero de muitos estrangeiros que demandam Portugal.
Desespero esse que cresce à medida que o tempo passa.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.