“Se as mulheres mandassem não haveria guerras.”
Não sei quem tal disse nem tão pouco tenho a certeza de concordar totalmente com a afirmação. Estou em crer que tudo depende das mulheres. Recordo a senhora Thatcher, apenas para enumerar uma, que não se coibiu de declarar guerra à Argentina no caso da soberania das Falklands.
É inegável que nenhuma mulher envia os filhos para a guerra de bom grado, mas também não haja dúvidas que, para defender a vida dos seus e a própria, para combater a tirania ou a repressão, não se coíbe de pegar em armas. São, aliás, mais terríficas em batalha do que os homens a ponto de serem temidas por guerreiros sanguinários e supostamente mais experientes.
No entanto, creio ser unânime a ideia de que existe uma forma feminina de ver o mundo, a política e as relações entre as pessoas, muito mais baseada no pacifismo e na harmonia.
Desengane-se quem pensa que essa é uma forma fraca, débil, de estar e ser. O chamado sexo fraco foi sempre um mito e as mulheres já há muito que tomaram o destino nas suas mãos e decidiram reivindicar o lugar que a História, escrita na sua esmagadora maioria por homens, lhes vinha negando.
Mesmo em países de ditadura machista onde a mulher é pouco mais que um objeto, assistimos, com algum espanto, a corajosas manifestações reclamando liberdade e igualdade de tratamento e de direitos. Manifestações que podem ser e são-no, muitas vezes, sentenças de morte!
Mesmo em países de ditadura machista onde a mulher é pouco mais que um objeto, assistimos, com algum espanto, a corajosas manifestações reclamando liberdade e igualdade de tratamento e de direitos. Manifestações que podem ser e são-no, muitas vezes, sentenças de morte!
Contudo, estes movimentos não têm merecido o apoio que deviam por parte das instituições, dos governos, enfim, da comunidade internacional, que se limitam a aplaudir de bancada sem, no entanto, tomarem posições firmes que possam proteger a luta destas mulheres e, – mais! – , que possam traduzir-se em mudanças de políticas mesmo em países onde um suposto credo se confunde com o temor do poder no feminino.
São as primeiras vítimas de todas as guerras. São as que mantêm a célula familiar unida e funcional mesmo quando escorraçadas dos seus ambientes, das suas casas dos seus países.
Na Europa pensamos, erradamente, que ultrapassámos todas as barreiras e que fizemos um percurso que não poderá ser revertido.
Erro total!
Sim, já não temos que queimar sutiãs para demonstrar a liberdade que exigimos para o nosso corpo e a nossa vontade. Mas as forças contrárias e misóginas alastram como vagas por esse mundo fora.
Portugal também não está imune. Veja-se o que aconteceu na mais recente convenção dum partido (?!) político onde se declarou, alto e a bom som que as verbas destinadas às políticas de género deveriam ser retiradas e canalizadas para outras áreas.
É dum retrocesso sem nome e que só faz sentido numa “agremiação” onde se proclama, sem pejo, que se é fascista. Aqui apenas um parênteses: não existe qualquer coisa na Constituição que proíbe partidos fascistas? Estou em crer que sim…
Mas voltando à igualdade e equidade de género que esse… partido (?!) considera um aberração a combater e a eliminar.
Como é possível que em pleno séc. XXI ainda haja quem possa fazer tais declarações? Mais, como é possível que tenha na plateia mulheres a aplaudir??
Em declaração pública, Elza Pais fez notar quão forte é o poder das eleitoras. Independentemente das suas ideias político/partidárias, a presidente da MS-ID alertou para este facto indiscutível: 52% do eleitorado português é constituído por mulheres.
Será que este número esmagador, que é uma maioria que pode fazer TODA a diferença, deseja de facto ser tratada como cidadã de segunda categoria? Será que pretende retroceder ao tempo em que o provedor da família era a parte masculina ficando ela dependente em tudo do homem? Voltar ao tempo em que, para assinar um contrato, ter um negócio ou mesmo passaporte, precisava de autorização? Daí até perder o direito de expressão pelo voto o passo é pequeno.
É isto que querem? É isto que queremos?
É possível que tenha havido um pouco de exagero em relação à identidade de género.
Mas só quem nunca assistiu ao horror que é sentir-se preso num corpo que não é seu sem ter hipótese de, medicamentosamente proceder à alteração – dolorosíssima ! – possível, é que pode olhar com desdém tais situações.
Recordo dois jovens em Pacaraima, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, aquando do grande êxodo de 2019. Impedidos de continuar o seu tratamento hormonal iniciado no país de origem passavam o inferno físico e psicológico de se sentirem “monstros de feira“ (expressão dos próprios). Presos num corpo que não reconheciam como seu, ambos, repito, ambos optaram por pôr termo a tanto sofrimento suicidando-se. Tinham pouco mais de vinte anos.
Quem somos nós, quem são eles os que querem uma “raça” pura, para julgarmos e jogarmos aos deuses?
Os direitos não têm género, são universais e de toda a Humanidade.
Nenhum caminho está totalmente e perenemente feito.
Pensemos nisto e hajamos em conformidade.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.