Querida avó,
Recordas-te do Vitinho? O famoso protagonista da série de desenhos animados, que animou miúdos e graúdos por mais do que uma década.
Fez 35 anos no ano passado, imagina.
Recordo-me que dava todas as noites na RTP e anunciava a hora das crianças irem para a cama. O Vitinho era adorado por miúdos e graúdos.
A RTP andava à procura de um espaço diário de animação com o objetivo de criar uma hora que levasse as crianças a deitarem-se mais cedo. Na altura, discutia-se que as crianças ficavam a ver televisão até muito tarde. Imagina o que tinham para discutir hoje, em que as crianças têm tanto para se entreter.
O Vitinho foi um sucesso tão grande que foi para além da televisão. Era Vitinho em livros, em CD’s, nos cereais, canecas e tigelas para o pequeno almoço… Cada vez que íamos à Baixa, ficávamos de olhos colados nas montras das lojas. Estas estavam repletas de discos, cassetes, livros… sei lá que mais… A minha mãe acaba sempre por nos comprar qualquer coisa. Provavelmente ainda existem vestígios lá por casa.
O que voltaram agora foram as almofadas do Vitinho. Existe uma marca que teve a feliz ideia de trazer para o presente esse objeto que faz parte das nossas memórias do passado.
Lembro-me do meu irmão ser pequeno e teimar em não ir para a cama.
A minha mãe dizia: ”Meninos, assim que der o Vitinho vão para a cama e não há mais conversa!”
Impressionante, a influência que o Vitinho tinha nos miúdos. Conseguia mandá-los para a cama a sorrir, coisas que os pais, por muito extremosos que fossem, não conseguiam fazê-lo com a mesma facilidade.
Uma época em tudo diferente à que estamos a viver! Em que as crianças brincavam na rua, esfolavam os joelhos, não existiam tantos carros, o que facilitava andarmos de bicicleta nas ruas e inventar inúmeras brincadeiras.
O Vitinho acabava sempre assim: ”Sonhos lindos, adeus e até amanhã.”
Bjs
Querido neto,
As coisas de que tu te lembras…
Tudo nos vem à cabeça neste nosso “Diário” que nos leva a viajar às memórias de Portugal.
Eu a pensar que só as velhotas como eu se lembram do Vitinho. Mas claro que tu, e todos da tua geração se lembram.
Mas é engraçado falares do Vitinho… Ainda há pouco desci as escadas para ir ver se tinha correio e encontrei uma vizinha que me disse que tinha estado à conversa com a neta, precisamente sobre o Vitinho e as almofadas que acabaram de ser reeditadas.
Claro que a miúda nem sonhava quem tinha sido tal personagem, até gozou com ela e perguntou-lhe se era algum namorado. E a minha vizinha lá lhe contou tudo.
Mas dei comigo a pensar que, se calhar, a minha vizinha também não sabia tudo. E perguntei-lhe se sabia que a Maria Alberta Menéres até tinha escrito um livro sobre o Vitinho.
Abriu tanto a boca de espanto que, certamente, se ainda usasse máscara, iria engoli-la.
Ainda comentou:
“Ai, vizinha Alice, as coisas que aconteciam nessa altura… Mas agora que fala nisso também me lembro que todos os cantores conhecidos cantavam músicas sobre o Vitinho…O Paulo de Carvalho, a Lena d’Água… Coitados, tinham de fazer pela vida…
Riu-se e, já a subir as escadas para ir para casa, ouvi-a cantarolar:
“Está na hora da caminha; Vamos lá dormir; Vê lá fora, as estrelas; Dormem a sorrir; E amanhã cedinho, bem cedinho; Tu vais ver; Acordas mais forte e mais esperto; Isso é crescer.”
O meu amigo José Maria Pimentel foi o publicitário e ilustrador responsável pela criação do Vitinho.
Por falar em músicas infantis que não são esquecidas, recordas-te da Rua Sésamo?
Pois quem escreveu a letra da canção “Orgulho em ser uma vaca” foi esta avó que tanto te ama.
E pronto, meu neto, como diria o Vitinho, “boa noite e até amanhã.”
Bjs
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