Querida avó,
Cá estamos de volta a mais um Natal.
O segundo com restrições, embora menos do que as do ano anterior.
Recentemente, falei com o Severino, o “nosso” Pai Natal. Pelo segundo ano consecutivo, não vai estar, presencialmente, no centro comercial, onde há mais do que 20 anos encanta miúdos e graúdos.
Continua a fazer imensos zooms e afins, com todas as crianças que desejam fazer os seus pedidos ao Pai Natal. Não é a mesma coisa, claro, mas não é o vírus, e as suas variantes, que vão fazer desaparecer a magia do Natal! O Pai Natal é tão nosso amigo, que até fez um vídeo a indicar o nosso “Diário” como uma sugestão para as famílias.
Entre tertúlias que tenho tido sobre o nosso livro, e a azáfama com a tua Exposição, e a do “avô”, faltam poucos dias para o Natal e, confesso-te, ainda não sei o que vou oferecer a praticamente ninguém.
Nem tempo tive, ainda, para ir ver as decorações de Natal nas ruas. Leiria está com uma decoração de Natal lindíssima. Como sabes, recentemente, inaugurei a exposição Retratos Contados de Ruy de Carvalho, na galeria do Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria. Nesse dia, tive oportunidade de passear pelas ruas vestidas a rigor para celebrar o Natal. Gostei imenso de ver o Castelo de Leiria, todo iluminado, no cimo da cidade, é um belíssimo postal de Natal.
Tirando isso, tenho ido a alguns espectáculos de Natal, que fazem parte da programação da EGEAC, em Lisboa, e nada mais. Nem compras, nem nada.
Pelo menos fiz a árvore de natal no início do mês.
E tu? Não te tenho ouvido falar, nem visto no Facebook, das tuas centenas de presépios, que todos os anos espalhas pela casa toda.
Agora, se não te importas, vou a correr comprar alguns presentes. Para as crianças vou comprar o teu livro Duas histórias de natal.
Também já sei o que te vou oferecer. Mas o importante é o lugar que ocupas no meu coração. Isso, sim, é a magia do Natal!
Feliz Natal, querida avó.
Bjs
Querido neto,
E estamos no Natal…
Aqui na casa da Ericeira tenho poucos presépios—mas esses já estão ali a brilhar. O Sr. Rui Pinheiro, artesão aqui da terra, faz uns presépios lindíssimos, ainda sou capaz de lhe ir comprar um.
Mas com este tempo que tem feito nem parece Natal… Claro que agora gostamos muito, mas sem uma pinga de chuva estes meses todos, vamos amargá-lo!
Mas já que falamos de Natal, deixa-me contar-te uma história que se passou, há muitos anos, com um dos meus netos mais novos. Eles viviam então na cidade de Leicester, em Inglaterra, mas vinham sempre passar o Natal connosco. E adoravam que eu lhes mostrasse fotografias.
E uma das fotografias era do pai, quando tinha ido a Marrocos, em viagem de fim de curso: montado num camelo, no meio do deserto e vestido à árabe.
E de repente vejo os olhos esbugalhados do Pedro, muito pequenino, a olhar para a fotografia e a exclamar:
“ O pai foi a Belém ver o Menino??”
Tive imensa vontade de rir, mas fiz um esforço e fiquei muito séria, como o momento requeria.
E dei-lhe a única resposta possível:
“Claro, meu querido!”
A admiração dele pelo pai cresceu imenso nesse dia.
Depois, já mais crescidos, adoravam fazer o presépio. E havia um onde só eles mexiam. Era divertidíssimo. O meu neto Diogo colocava sempre um aviãozinho de plástico do INEM no telhado da gruta, porque o Menino podia constipar-se e assim ia logo para o hospital. E depois havia o lado onde estavam os bons—os pastores, as ovelhas, as mulheres que levavam prendas—e do outro lado os maus: os soldados romanos… e o Darth Vader… Ah, e na manjedoura, lado a lado, o Menino Jesus e o Pai Natal. Foram sempre muito criativos…
A irmã tinha outro tipo de criatividade… Como naquele dia, teria ela uns 8 anos, em que me ligou para desejar boas festas e acrescentou:
“Ah, e tenho uma coisa para te dizer: namoro um japonês mas não é para casar já!”
Claro que fiquei mais calma.
E boas festas
O Diário de uma Avó e de um Neto é um projeto do site Retratos Contados
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