Querida avó,
Cresci a acreditar no Pai Natal. Um homem rechonchudo, de longos cabelos e longas barbas brancas, que, montado no seu trenó, vinha de um pai longínquo, levar prendas às casas das crianças, que ao longo do ano de portavam bem.
Devo ter acreditado no Pai Natal até aos 9 anos.
Recordo-me que, na altura, deixava vários sapatos junto da chaminé. Na expetativa de que, ao deixar vários sapatos, aumentava a possibilidade de existirem mais prendas. O que acabava por corresponder à realidade.
Naquela altura, os presentes eram abertos no dia 25, quando acordávamos. A esperança do que iria estar na manhã seguinte por baixo da chaminé era muito mais interessante, do que o amontoado de prendas que se veem hoje por baixo das árvores.
A árvores de Natal na altura eram pinheiros verdadeiros. Hoje existe uma variedade enorme de decorações de Natal.
No entanto, a magia do Natal continua a ser a mesma! Todos os anos o Pai Natal continua a encantar miúdos e graúdos.
Por coincidência, o “meu” Pai Natal é o mesmo que o teu. Há anos que o vou visitar a um grande Centro Comercial de Lisboa.
Há uns anos entrevistei o Severino Moreira e o Pai Natal para os Retratos Contados. A partir daí nasceu uma amizade cultivada ao longo do ano.
O seu testemunho é muito bom! Vale a pena ouvirem o Homem e Avô, por trás do Pai Natal, e a partilha emocionante das experiências que o Pai Natal tem tido com crianças e adultos.
O ano passado o Pai Natal teve que se reinventar! Veremos este ano. Novos tempos exigem novas soluções. As crianças não podiam ficar sem ter acesso àquela que consideram a personagem principal da quadra natalícia. Se o Pai Natal não pode ir ao encontro das crianças nos centros comercias, as crianças vão ao encontro do Pai Natal através de uma solução que os aproxima. Desta forma, não se perde o contacto com as crianças que querem fazer os seus pedidos ao Pai Natal. Nos últimos 20 anos, este ano foi a primeira vez que Severino não mostrou ao vivo todos os seus encantos.
Severino Moreira é sinónimo de envelhecimento ativo. Nunca pensou em reformar-se, calçar os chinelos e ficar em casa em frente à televisão. Severino Moreira tem vivido situações inesquecíveis, e faz aquilo de que gosta: levar às crianças a alegria e a magia do Natal. O Natal jamais poderá perder o seu significado.
Como dizia a minha avó: ”O Pai Natal pode ser muito bonito, mas nunca nos podemos esquecer que figura central do Natal é o Menino Jesus!”
Feliz Natal.
Bjs
Querido neto,
O Pai Natal é um velho de barbas brancas, que vem num trenó puxado por muitas renas, e deita os presentes pelas chaminés abaixo.
Mesmo nos prédios de muitos andares, que não têm chaminé.
É esta história que faz as delícias de miúdos e graúdos e em que, evidentemente, nem miúdos nem graúdos acreditam—mas fazem muito bem de conta. Porque é esse o papel que se lhes pede: que representem nesta altura.
Devo dizer no entanto que, na minha infância, o Pai Natal nunca foi pessoa das minhas relações.
Para mim, o Natal era a altura do ano em que vinham os chatos dos tios muito velhos da província, que só queriam ver as revistas do Parque Mayer e engatar as coristas.
Depois davam-me prendas, que eu sempre pensei que eram a (justíssima) paga por ter passado aquele tempo caladinha no meu canto, sem chatear os adult(er)os.
Com a chegada dos meus filhos fui, digamos, obrigada a fazer a revisão da matéria dada…
Mas eles, coitados, também chegaram em má altura, andava toda a gente muito revolucionariamente excitada, e o Pai Natal não entrava naquela excitação.
Era o tempo dos “Operários do Natal”, estão a ver!
Quando comecei a achar uma certa graça ao Pai Natal, já tinha netos.
Estes sim, puderam gozar à vontade o Pai Natal, apertar-lhe a mão sem remorsos, fazer-lhe estranhas encomendas, tirar retratos ao colo dele, pô-lo inclusivamente deitado nas palhinhas num dos muitos presépios cá de casa.
Entretanto cresceram, desandaram para longes terras e o meu Pai Natal ficou outra vez um pouco abandonado.
Agora, quando, por acaso, o meu Pai Natal é mesmo um amigo meu.
Lembro-me que há meia dúzia de anos subi imenso na consideração da minha neta mais nova. Íamos nós a entrar num café, quando eu lhe disse:
– Conheço o Pai Natal. É aquele senhor que está ali.
Porque o meu Pai Natal existe.
Chama-se Severino, andou por Angola, fez rádio, teatro amador, publicidade, etc, etc. Reformou-se há anos, e desde então vai escrevendo umas coisas, faz uns vídeos e, quando chega Dezembro, veste a fatiota vermelha, põe as barbas brancas e anda por um dos centros comerciais mais importantes de Lisboa a deixar-se fotografar com as crianças ao colo e a ouvir histórias. E tem histórias fabulosas!
O ano passado ficou com mais uma história para contar. Devido à pandemia, tudo teve que ser alterado! Mas nem assim o Severino deixou de levar a magia do Natal a todos.
Comecei tarde a acreditar no Pai Natal, mas valeu a pena!
Feliz Natal.
Bjs
O Diário de uma Avó e de um Neto é um projeto do site Retratos Contados
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.