Dia 43.
Hoje é um dia especial: celebramos um 25 de Abril confinados. Cansados, preocupados, nervosos, intolerantes, impacientes. Muitos de nós tristes, desolados, angustiados, desesperados. Estamos há 38 dias fechados ou com as rotinas alteradas, num Estado de Emergência difícil de suportar e que, quando acabar, não porá termo à provação.
Celebramos um 25 de Abril confinados, emparedados, restringidos na nossa liberdade de circulação e de ajuntamento. E por isso, hoje, mais do que nunca, faz sentido recordar o que foi estar confinado a este País durante os 41 anos da ditadura. O que foi estar fechado num País apequenado, de vistas curtas, fechado sobre si mesmo, onde pensar livremente era um delito. Onde as pessoas não nasciam todas iguais, onde se tinha de olhar por cima do ombro antes de falar ou criticar o status quo instituído, onde os jovens eram doutrinados de pequenos ao pensamento único, onde os fracos eram deixados ao abandono, onde a religião era imposta, onde a educação, a cultura e a saúde eram só para alguns. Onde uma polícia vigiava os costumes e enclausurava os inconvenientes. Onde faltava o essencial: a liberdade, e com ela a democracia, a igualdade, a solidariedade.
Liberdade. Nunca é, pois, demais darmos graças por ela. Vamos gritar em conjunto: li-ber-da-de. Celebrar Abril não é mais do que celebrá-la. É um imperativo nacional fazê-lo, todos juntos, da esquerda à direita. A liberdade não tem cor, a liberdade não é dos políticos nem dos partidos. A liberdade é nossa, de todos os portugueses. É minha, é sua.
Vamos hoje explicar mais uma vez hoje aos nossos filhos o que foi viver sem ela. Vamos dizer-lhes que nunca, mas mesmo nunca, a podemos dar por garantida. Como estes 38 dias bem mostram, o nosso mundo muda num ápice. A cabeça das pessoas também. Quanto mais amarmos a liberdade, quanto mais a cultivarmos em conjunto, quanto mais recordarmos o que foi viver sem ela, mais resistentes nos tornamos a ceder perante os totalitarismos e pensamentos únicos que a ameaçam.
Estamos em Estado de Emergência, mas podemos escrever, podemos criticar, podemos pensar. Sim, estamos hoje confinados, mas somos livres. Obrigada Abril.