Dia 33.
Os últimos dias foram importantes para metermos números no que a maioria de nós já sentia na pele. Não tenhamos dúvidas: a recessão que virá com a Covid-19 vai ser grande, vai ser dura e vai deitar a perder muito do trabalho conseguido nos últimos anos em matéria económica e financeira.
Esqueçam a crise financeira de 2008 e 2009 que assolou o mundo, e que se transformou numa dura crise económica em Portugal: a coisa agora será muito mais séria. Não sou eu que digo, é o FMI, que ontem avançou com um relatório devastador, onde reviu as perspetivas para o ano. Depois da Grande Depressão em 1929 e início dos anos 30, temos agora a recessão do Grande Confinamento, na expressão utilizada pela economista-chefe da instituição com sede em Washington. Será a primeira vez em 90 anos que as economias desenvolvidas e os mercados emergentes recuam todos ao mesmo tempo – o normal é termos andamentos diferentes nas conjunturas das várias zonas do globo.
É uam espécie de tempestade perfeita determinada pela pandemia da Covid-19 que faz com que a procura recue um pouco por todo lado. E os países mais dependentes do turismo são, compreensivelmente, os que mais se ressentem. É o caso de Portugal, onde o setor tem um peso de cerca de 15% no produto nacional. Os que mais dependem das exportações também são muito afetados. Portugal tem 45% do PIB dependente do que vende para o estrangeiro.
As contas por cá estão alinhavadas: por cada 30 dias úteis de paragem, o PIB anual encolhe 6,5%. A contração no segundo trimestre pode chegar, na perspetiva do ministro das Finanças, a “quatro ou cinco vezes o máximo que caiu num trimestre”, o que empurra as estimativas para algo entre os 16% e os 20%. Ainda assim, Centeno não espera que o PIB nacional recue no conjunto do ano mais de 10%. Um valente trambolhão, note-se. O FMI adianta um valor mais concreto, ainda que com muitas incertezas associadas: uma quebra de 8% em 2020 para Portugal.
No final de março, o Banco de Portugal desenhava dois cenários: um menos mau, com um recuo de 3,7% em 2020, e outro mais drástico, que podia chegar a uma queda do PIB de 5,7%. Previsões que, na opinião de Mário Centeno e do FMI, pecavam por otimistas…
Uma coisa é certa: todos os nossos indicadores que tinham evoluído positivamente, vão agora por água abaixo: depois de um excedente de 0,2% em 2019, o FMI prevê para este ano um défice público de 7,1% para Portugal. A dívida pública também deverá disparar novamente, claro está. Dos atuais (e já preocupantes) 117,6% do PIB para 135% este ano.
A única parte boa é que a recuperação da economia e do emprego acontecerá rapidamente, logo no ano seguinte. Depois de uma quebra de 8% em Portugal, espera-se um crescimento de 5% já em 2021. O desemprego, depois de disparar para quase 14% este ano, deverá recuar para 8,7%.
E depois uma notícia que, não sendo boa, sempre nos alenta: não estamos sozinhos nisto. A Europa está toda no mesmo barco, e todos os países 27 estão a braços com uma tempestade sem precedentes, mergulhados numa recessão e para lá do que está previsto nas regras orçamentais do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Que venham novas fórmulas, soluções criativas e, finalmente, mais união e coesão. Se esta luta comum não nos unir como europeus, nada mais unirá.