Cansa-me um bocadinho a tendência nacional omnipresente para o bota-abaixo. Portugal é um estádio cheio de treinadores de bancada sempre a atirar bitaites, que quando não têm nada para dizer, dizem mal. Seja qual for o assunto, nunca os políticos ou chefes são suficientemente eficientes, nunca nenhum trabalho é bem feito, há sempre qualquer coisa a apontar ou a criticar. Desde de que apareceu a Covid-19, então, debaixo de cada pedra salta um pneumologista, um epidemiologista ou um especialista em saúde pública.
Mas se há algo de que todos nós, portugueses, nos devemos orgulhar, é da resposta do Sistema Nacional de Saúde ao desafio enorme com que tem sido confrontado. E já agora, da nossa Ministra da Saúde, Marta Temido, que tem tido uma boa prestação.
Um dos critérios para perceber a resposta de um país é analisar a quantidade de testes efetuados. Nesta matéria a ordem da Organização Mundial da Saúde foi clara: testar, testar, testar. Analisar todos os casos suspeitos é o princípio número um para combater a Covid-19. E, aqui, é bom que se diga que Portugal está a fazer um excelente trabalho, tendo em conta a sua dimensão e capacidade.
Comparando o número de testes realizados, percebemos que Portugal, com 12 630 testes por milhão de habitantes, está em oitavo lugar entre os países da União Europeia, à frente de países como a Alemanha (10 962), Espanha (7593), Holanda (5926) ou França (3436). Estamos atrás de nações muito pequenas, como Luxemburgo, Malta, Estónia, Eslovénia e Letónia, todos com menos de 2,5 milhões de habitantes.
Dos países maiores, apenas a Áustria com 13 408 testes, e a Itália, a braços com uma verdadeira crise de saúde pública que ditou a necessidade de testar muita gente, estão à frente de Portugal. Estamos à frente de todos os países com a dimensão idêntica à nossa (Irlanda, Bélgica, Suécia, Grécia e Hungria) – entre os 9 e os 11 milhões de habitantes. (VER GRÁFICO ABAIXO)
Diga-se aliás que a Suécia, que adotou uma estratégia “liberal” mantendo escolas, restaurantes e bares abertos, fez apenas 5416 testes por milhão de habitantes – e o resultado está a ser desastroso – quase 700 mortes.
Hoje na conferência de imprensa diária, o secretário de Estado, António Lacerda Sales, sublinhou que “há garantidamente um reforço da capacidade de testagem”, ainda que possa existir”alguma assimetria de uns locais para outros”. Percebe-se bem que esse esforço foi feito. Bendito SNS.