Hoje temos uma boa nova, no meio do caos do tsunami que leva tudo pela frente. Ou eu gostava de acreditar que sim. Poderá a tempestade estar a perder a força? Conforme adiantou há pouco a VISÃO, os especialistas reunidos num encontro que aconteceu esta manhã no Infarmed estão a elencar a hipótese de o pico da infeção pelo surto de Covid-19, em Portugal, poder ter sido atingido a 16 e 17 de março, e que teria acontecido um planalto da curva. Ao que parece, o número de infetados pelo coronavírus pode já estar até a diminuir, embora os especialistas frisem que é preciso manter cautelas, não dar passos maiores do que as pernas e esperar pelos dados dos próximos 15 dias para ter a certeza de que é mesmo assim.
Há seis dias, António Costa dizia que ainda não tinha chegado o momento de ver “a luz ao fundo do túnel”, rejeitando precipitações no otimismo da evolução da curva. Hoje, o Presidente da República, que em tempos chamou ao Primeiro-Ministro otimista irritante, foi o otimista de serviço, salientando, ainda que com contenção, as boas notícias. Mas deixando claro que não podemos afrouxar nos esforços: “Se queremos ganhar a liberdade em maio precisamos de a ganhar em abril”. Ganhar liberdade em abril, uma vez mais, parece-me para já um bom plano. Está comprado.
Aqui ao lado, em Espanha, os números também começam a dar sinal de querer abrandar. Até ontem, durante cinco dias consecutivos desceram os novos contágios, e durante quatro recuaram os mortos. Nas urgências em Madrid, conforme relatou à VISÃO um médico português, o caos que se viveu parece estar a dar tréguas. E começaram a ser levantadas algumas medidas: permitiu-se hoje o regresso ao trabalho de quem não pode fazê-lo a partir de casa. A Áustria e a Dinamarca já preparam uma “ressureição pós-Páscoa”, com reaberura de alguns serviços e até escolas a partir da próxima semana.
Eu que tenho este vício de fazer planos, acho fundamental começar a pensar a sério no day-after. Mesmo que não seja para já, temos de tratar de um plano detalhado para o regresso faseado à uma certa normalidade. Ao nosso novo normal, que será doloroso, como todos sabemos. Um cenário onde os testes de imunidade, que ainda tardam em chegar, serão fundamentais. E os apoios económicos também.
Mas foquemo-nos na luz. Contentemo-nos, todos, com um dia e uma alegria de cada vez. Hoje faço anos de casada e vou abrir uma garrafa de vinho.