É um erro acreditar que uma relação de cariz socioeconómico é sustentável quando é claramente desequilibrada e quando assenta na perceção da imposição de múltiplas injustiças.
Por exemplo, é geralmente sentido como injusto, humilhante e até associal, particularmente numa sociedade pobre, o facto de alguém usufruir de um rendimento considerado exageradamente elevado, eventualmente 20, 30, 40 vezes superior ao rendimento médio das outras pessoas, na mesma empresa. Prolongar esta situação, assim como o sofrimento profundo que causa a pobreza, vai acentuar a desconexão e o ressentimento.
Maximizar os lucros da empresa -custe o que custar- para proveito próprio e dos acionistas, e tudo fazer para lucrar o mais possível com negócios – que muitas vezes não suportam a luz do dia- são comportamentos considerados egoístas e associais, pois, geralmente, prejudicam outras pessoas, a empresa e a sociedade.
Geralmente, a legislação laboral, as condições e os contratos de trabalho são acintosos, revelando malicia, provocação e más intenções. Nos locais de trabalho, as pessoas são sujeitas à prepotência, são maltratadas, particularmente as mulheres, e impedidas de ter alguma participação relevante na empresa. O sistema hierárquico de gestão, a organização ineficiente da empresa ou da instituição, a impreparação dos responsáveis e a ausência de cultura do diálogo, criam um ambiente desanimador e irrespirável. Embora sempre excluídos, os trabalhadores são aqueles que mais riscos correm e mais sofrem. As suas famílias não vivem bem.
Num contexto em que os serviços públicos estão incrivelmente mal-organizados e são mal geridos, para além de serem caros, insuficientes, de difícil acesso e de má qualidade, é expectável que o dia-a-dia da grande maioria dos cidadãos, das famílias e, particularmente, das mulheres e das crianças, seja extremamente angustiante e doloroso. Há, no entanto, um pequeno grupo de pessoas que dispõe de muito mais do que alguma vez vai gastar, criou na sociedade um sistema de castas, é incompetente e não presta atenção ao que os seus comportamentos provocam.
Quando, nestas condições, a democracia não é atuante a sociedade entra em sofrimento crónico: crispa-se, adoece e desagrega-se. É necessário recorrer a alguns princípios morais e éticos tais como a verdade, a justiça e a bondade, justo e de injusto.
É urgente humanizar e moralizar as empresas e a atividade económica
A Economia Social é construída por cidadãos de boa vontade que, voluntariamente, se organizam em cooperativas, associações ou mutuais e que trabalham, uns para os outros e para o bem comum. São os sócios destas organizações democráticas que as gerem e as financiam, exercendo o seu direito de voto na Assembleia Geral de Sócios que elege os corpos diretivos.
As organizações da Economia Social dinamizam e protegem a sociedade civil com iniciativas próprias, em todos os setores da sociedade. Podem gerir creches, escolas e universidades, criar centros de saúde e hospitais a todos acessíveis, em tempo útil e de qualidade. Podem também organizar grupos de reflexão (think tank), museus e supermercados, construir centros onde jovens, adultos e seniores – saudáveis ou doentes- se podem instalar e receber o acompanhamento necessário. Outras organizações da Economia Social facilitam a prática de desporto, estimulam atividades culturais e lazer para todos, oferecem seguros, compram e vendem energia elétrica a preços reduzidos, criam centros de estudo para as pessoas aprofundarem os seus conhecimentos e aptidões socioemocionais, compram grandes quantidades de bens e serviços para profissionais no setor agrícola e das pescas, que depois fornecem aos seus sócios a preços mais acessíveis. Tudo isto é possível graças aos princípios morais e éticos que os sócios destas organizações e empresas subscrevem e que os levaram a acordar não distribuir lucros (que são reinvestidos), nem pagar remunerações milionárias aos conselhos de administração e gestores.
Casas
Numa cooperativa de habitação, um grupo de pessoas une-se para promover, construir ou adquirir casas a custos controlados, eliminando intermediários e margens de lucro. Os sócios da cooperativa contribuem com capital e financiam o projeto em conjunto. No final, recebem a sua casa ou andar sob dois regimes principais: propriedade individual (passa para o cooperador) ou coletiva (a cooperativa mantém a propriedade, cedendo o direito de uso/inquilinato).
Despedimentos e a biodiversidade
Muitas das maiores empresas na Europa são organizações socialmente responsáveis, entre elas alguns dos mais importantes bancos éticos (Triodos, GLS Bank, Banca Etica, Group Crédit Coopératif ). Estes bancos investem no comércio justo e na agricultura orgânica, em iniciativas culturais e artísticas, projetos de energia renovável e empresas sociais. Os investimentos nas empresas ou organizações selecionadas só são concedidos após escrutínio que tem como parâmetros Desenvolvimento Sustentável, Mudanças Climáticas, Biodiversidade, Direitos Humanos, Igualdade de Género, Direitos dos Trabalhadores, Corrupção, Bem-Estar Animal e Transparência. Os próprios bancos são igualmente escrutinados segundo estes mesmos critérios por organizações externas.
Na Economia Social não pode haver indiferença, despedimentos ou outros comportamentos cruéis, particularmente contra as mulheres. As relações de trabalho na Economia Social são geridas por contratos coletivos de trabalho.
A Economia Social é saudável, o que a faz mais eficiente e rentável que a Economia Associal.
As eleições na Associação Mutualista Montepio
As eleições na Associação Mutualista Montepio, uma organização com mais de 600 mil sócios e um grupo de empresas muito relevante, vão ser uma oportunidade para corrigir, fazer mais e melhor, no âmbito da Economia e da Sociedade Socialmente Sustentáveis.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.