Portugal tem jovens brilhantes. Formados nas melhores universidades, com competências digitais, visão internacional, vontade de inovar e criar. E, no entanto, cada vez mais olham para fora e pensam: “aqui não vale a pena”. O País perde talento porque continua a tratar a ambição como um defeito em vez de a assumir como motor de progresso.
Os jovens querem emigrar porque se apercebem da simples realidade – trabalhar mais, esforçar-se mais, arriscar mais em Portugal não resulta em reconhecimento. O sistema está desenhado para nivelar por baixo: salários estagnados, carreiras bloqueadas, empresas pouco meritocráticas. O que se valoriza não é a coragem de arriscar, mas a habilidade de se conformar.
Querem emigrar porque enfrentam uma carga fiscal sufocante. O IRS penaliza quem sobe, as contribuições sociais comem os salários, e os mais ambiciosos sentem que trabalham mais para o Estado do que para si próprios.
Pior: sentem que o fruto do seu esforço não é reinvestido em serviços públicos eficazes, mas muitas vezes desperdiçado em subsídios ou estruturas que perpetuam mediocridade. Trabalha-se demasiado para sustentar quem não quer trabalhar.
Querem emigrar porque sabem que noutros países a falha não é condenação vitalícia. Em Portugal, errar é sinónimo de vergonha. Lá fora, é experiência, é aprendizagem.
Querem emigrar porque a escola que os formou muitas vezes lhes ensinou a obedecer em vez de criar. Premiar a mediocridade, o aluno que não se destaca para não incomodar, é uma receita para perdermos talento. Mas os melhores não aceitam isso: procuram ambientes onde a criatividade, o empenho e a ousadia são valorizados.
O resultado está à vista: os jovens mais capazes, os que poderiam transformar o País, não querem ficar. Não é falta de amor a Portugal. É falta de condições para prosperar aqui. E a pergunta que se impõe não é “porque é que eles querem emigrar?”, mas “porque é que Portugal insiste em empurrá-los para fora?”.
Queremos ser um país onde os jovens ambiciosos fogem para construir vida noutros lugares? Ou queremos ser um país onde eles ficam, inovam, arriscam e prosperam? A escolha é nossa. Parece-me uma escolha fácil.
Mas enquanto a recompensa ao esforço for mínima, os impostos máximos, e a cultura nacional continuar a confundir ambição com arrogância, a fuga de cérebros será inevitável.
O dilema é simples: queremos ser uma nação de excelência ou de mediocridade? De sucesso ou de subsídios? De inovação ou de imitação?
Os jovens já decidiram. Cabe-nos a nós, enquanto país, perceber se estamos dispostos a mudar para os fazer ficar.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.