Portugal é, em 2025, o país da Europa com maior percentagem de território ardido e este ano já ardeu 14 vezes mais área do que em 2024. Esta tragédia não foi um fenómeno imprevisível. Não foi um raio que caiu do céu. Foi, mais uma vez, a consequência de um país que só reage depois de arder.
E, como se não bastasse, com um agravante inaceitável: em décadas, nenhum governo teve coragem ou visão para fazer avanços sérios nesta área. Prometeram reformas. Fizeram relatórios. Lançaram campanhas. Mas, no essencial, infelizmente, tudo ficou como estava.
E o mais revoltante? Ninguém é responsabilizado. Culpamos o calor, o vento ou o acaso, mas raramente quem devia ter agido.
Em primeiro lugar, é fundamental ter em conta que provocar um incêndio florestal é um atentado contra o País. É terrorismo ambiental. É destruição de bem público. E deve ser tratado com a severidade correspondente. Penas longas e efetivas. Prisões sem suspensões nem atenuantes. Tolerância zero. Cerca de um quarto dos incêndios em 2025 até à data tem como origem “fogo posto”. Este número tem de reduzir.
Em segundo lugar, é urgente criar uma rede de guardas-florestais permanente, operacional e treinada. Sem presença humana no território, não há prevenção possível.
E por que não, também, envolver prisioneiros com penas leves, em regime controlado, na vigilância e recuperação de áreas ardidas? Se a floresta é de todos, defendê-la tem de ser um dever de todos. Não há vergonha em usar força de trabalho disponível para reconstruir. Vergonha é deixá-la parada. Vergonha é pagar todos os meses, como sociedade, para manter inativos milhares de braços que podiam estar a proteger o que é de todos nós.
É também urgente repensar o ordenamento florestal do País. Precisamos de linhas de florestação planeada que funcionem como barreiras naturais ao fogo, com espécies autóctones, resistentes e adaptadas ao território. Isso inclui a criação de faixas de contenção, a limpeza sistemática e programada do mato, e a valorização económica da floresta, para que cuidar da terra deixe de ser um custo e passe a ser um investimento.
A conclusão é clara: soluções existem. O que falta é vontade. É preciso coragem política para romper com décadas de inércia.
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