Ooxigénio, essencial à nossa vida, é extraído nos pulmões a partir do ar inspirado pelo nariz ou pela boca. Na respiração normal, pelo nariz, o ar é filtrado de possíveis alergénios (por exemplo, pólenes) e corpos estranhos, e é humidificado e aquecido, contribuindo para a saúde funcional dos brônquios e dos pulmões.
Ao nível da mucosa dos seios paranasais, principalmente, e das fossas nasais e nasofaringe, forma-se óxido nítrico que facilita a captação de oxigénio nos pulmões e o seu transporte pelo corpo, tem ação imunitária protetora e propriedades antimicrobianas, provoca vasodilatação, diminui a pressão arterial, melhora o fluxo sanguíneo, regula a resposta inflamatória, previne a coagulação e a obstrução arterial.
Quando existe respiração bucal, em geral associada a obstrução nasal, aquela produção de óxido nítrico fica reduzida, aumentando o risco de infeções respiratórias, hipertensão arterial, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, disfunção erétil, demências, distúrbios digestivos, entre outras.
Infelizmente, há pessoas sem qualquer obstrução nasal que adquirem o hábito nefasto de respirar pela boca, pelo que devem ser esclarecidas sobre os riscos associados e ajudadas a revertê-lo. A respiração bucal, no entanto, torna-se necessária em doenças respiratórias agudas que cursam com marcada obstrução nasal congestiva, como constipações, gripes ou certas alergias.
A respiração bucal crónica, por obstrução nasal, pode ocorrer durante todo o dia ou só durante o sono, tem causas variadas como, por exemplo, má posição da língua, amígdalas ou adenoides aumentados, desvio do septo nasal, infeções nasofaríngeas crónicas, pólipos nasossinusais, sucção de dedos, anomalias congénitas (por exemplo, fendas palatinas, deficiências maxilares).
A língua baixa permite inspirar mais ar, mas promove secura da boca, com redução da saliva, que é essencial na eliminação de bactérias. Tal agrava-se na desidratação, em pessoas dependentes de outrem para ingerir água (doentes acamados, crianças). A secura e a proliferação bacteriana podem originar mau hálito, gengivites, cáries dentárias, dores de garganta e infeções respiratórias.
A respiração bucal crónica é causa frequente de perturbações do sono profundo, roncopatia (“ressonar”) e eventual síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono, com cansaço sistemático (sono não reparador), cefaleias matinais, problemas digestivos, fraca produtividade, entre outras. A má postura corporal é frequente, procurando facilitar a respiração, pelo encurvar dos ombros e o inclinar da cabeça para a frente, mas como isso pressiona o tórax, pode dificultar a respiração.
Nas crianças, a diminuição do nível de hormona do crescimento, associada às perturbações do sono, leva a um desenvolvimento físico inadequado, faces estreitas e longas, maxilares pouco desenvolvidos, dentes tortos e má oclusão dentária, boca aberta, sorriso gengival, disfunção das articulações temporomandibulares, incontinência salivar, problemas da fala, défices de atenção e raciocínio, hiperatividade, insucesso escolar e fraca autoestima.
Quem respira pela boca deve ter um acompanhamento multidisciplinar, pois existem muitos procedimentos e tratamentos médicos, cirúrgicos e outros possíveis, consoante o quadro clínico individual, pelo que deve ser solicitada orientação ao seu médico assistente.