Sem que tenha passado por “período de graça”, o Executivo liderado por Luís Montenegro está há cerca de 100 dias no poder. Para a história destes dias fica o consenso alcançado entre Governo e professores – algo que sempre defendi como urgente –, Governo e forças de segurança – nunca consegui entender o porquê de haver tantas desigualdades salariais entre as forças de segurança, tanto mais quando se apregoa igualdade e transparência salarial –, Governo e vários sindicatos afetos aos profissionais de Saúde – algo que sempre entendi como urgente em toda a linha, afinal são estes homens e as mulheres que em momentos de crise estão também na linha da frente. Fica também que é um Governo sustentado por 80 deputados (78 eleitos pelos PSD e 2 pelo CDS-PP) com assento parlamentar, num hemiciclo onde coabitam, entre outros, 50 deputados eleitos pelo Chega e 4 resistentes do PCP – o partido que mais representatividade perdeu nos últimos ciclos eleitorais e que agora cabe num TVDE ou num Táxi.
Retomando a minha linha de pensamento, este Executivo, composto por pessoas na sua maioria desconhecidas dos portugueses, não teve “período de graça”, mas tem sabido superar as expetativas, mesmo num terreno herdado com uma suposta almofada financeira gordita que, afinal, estava apenas insuflada e, uma vez destapada, revelou um défice orçamental de uns valentes milhões de euros no subsistema de solidariedade da Segurança Social.
Com os euros do PRR (a tal bazuca que a Europa nos cede e que Costa apregoou) a permitir avançar em diversas frentes, é natural que em pouco tempo tenhamos o país em obras. No entanto, a ampulheta não para e aproxima-se a passos largo a apresentação e votação da proposta de Orçamento de Estado para 2025. Não é preciso ser especialista para saber que a esquerda irá votar contra. A líder do BE até já viajou ao futuro e concluiu que a proposta de OE “tira recursos de baixo para entregar em cima sem resolver nenhum dos problemas do país”; e o PCP nem precisa de ir à London King’s Cross para se assumir contra qualquer proposta de gestão da direita capitalista. Quanto a direita deixo uma sugestão: demonstrar em 2024/2025 que a afirmação de Júlio César – “há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar” – deixou de fazer sentido, pois quando eles (os políticos portugueses de direita) querem o governo acontece.
Por agora, concluo que Montenegro estacionou ao centro e tornou-se um moderado centrista, deixando a direita para o Chega e a esquerda para o PS.
Se eles (os políticos nomeadamente do PSD, do CDS, do Chega, da IL) quiserem o governo da Nação acontece e, através de negociações limpas, os interesses do País são colocados à frente dos benefícios, das intrigas, do marasmo, do caciquismo que nos tem feito sombra há várias décadas. Mas, será que queremos mesmo contrariar Júlio César?
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