Pedro Nuno Santos é, finalmente, candidato a primeiro-ministro de Portugal. Primeiro passou no exame interno, entenda-se eleições diretas, depois foi reconhecido pelos pares no 24.º Congresso Nacional.
Como “rei morto é rei posto”, a máquina socialista foi rápida e nos primeiros dias do ano atualizou a imagem do líder de norte a sul. Nas ruas, onde antes estava o rosto de António Costa, vimos agora Pedro Nuno Santos de sorriso rasgado e ar simpático. Quem trabalha na área da comunicação repara no quanto a imagem está trabalhada. Repara no quanto o líder dos Socialistas mudou a imagem ao longo dos anos e no esforço que tem feito para “ressuscitar” o ar descontraído com que aparece no celebre retrato dos jovens turcos do PS.
Habituado a palmilhar o país real, Pedro Nuno Santos há muito que está no terreno a trabalhar os mais de 60% dos votos que o elegeram. É certo que o papel de comentador político não lhe assentou, mas no Congresso mostrou o que aprendeu enquanto líder da JS e sublinhou a habitual irreverência através de pequenos momentos.
Para a história do Congresso ficará o reconhecimento de Costa que, sem dar muito destaque ao seu sucessor, lá afirmou “você merece, Pedro Nuno” e recordou que o novo líder a ser eleito será o “primeiro primeiro-ministro que nasceu depois da Revolução de Abril. Ficará o estilo informal e “não bafiento”, onde não faltou camisola de gola alta, de Pedro Nuno Santos que num formato que lembra o dos casamentos à moda antiga, onde os noivos vão às mesas cumprimentar os convidados, abandonou o palco enquanto decorriam os discursos da tarde e foi cumprimentar alguns dos pesos pesados que não o apoiaram. Entre eles Fernando Medina (ainda ministro das Finanças), Eurico Brilhante Dias (ainda líder da bancada do PS) e Augusto Santos Silva (ainda presidente da AR).
Curioso também o facto de Pedro Nuno Santos ter assumido os erros ao mesmo tempo que lembrou a obra feita. Confesso que senti ali um bom aluno, que mais uma vez mostrou não ter problema em assumir erros e pedir desculpa, mas fiquei confuso sobre a obra feita. Mas, vou deixar este tema para mais tarde.
Por agora, fico feliz com o que aí vem. Os portugueses poderem, uma vez mais, decidir se querem mudança ou continuidade de políticas que estão ao colocar Portugal ao nível de países do terceiro mundo. São eleições disputadas por líder que cresceram na sua maioria em democracia – Pedro Nuno Santos nasceu em 1977, Luís Montenegro em 1973, Nuno Melo em 1966, Gonçalo da Câmara Pereira em 1952, André Ventura em 1983, Mariana Mortágua em 1986, Rui Rocha em 1970, Inês Sousa Real em 1980, Rui Tavares em 1972 e Paulo Raimundo em 1976 – e que, por isso, têm tudo para uma campanha eleitoral a olhar para o futuro, em vez de se discutir história que está feita, que é passado.
A terminar apenas uma espécie de nota de rodapé. Quantos congressos mais são necessários para que se aprenda a dispensar os militantes que habitualmente estão atrás do líder no momento do discurso final? O ar de enfado ao longo dos discursos não faz fit com a alegria final, onde alguns ainda não descobriram que o PS cerra o punho da mão direita.
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