Passamos a vida a gabar-nos acerca do quanto o nosso cão nos conhece e nos entende. Compreende quando estamos tristes, quando estamos ansiosos, quando nos levantamos “daquela maneira” – a de quem vai sair de casa – enfim, conseguem inclusivamente perceber que nos vamos chatear por terem roído umas cuecas desta vida. É verdade, os nossos cães adaptaram-se muito bem e compreendem em larga escala a nossa linguagem corporal, gestual e comunicação sonora. No entanto, será esta compreensão recíproca? Apesar de acharmos que sim, erros de interpretação são algo frequentes. Enquanto parte dos sinais são bastante evidentes, outros poderão ser algo ambíguos.
O desconhecimento e as falhas de interpretação da linguagem dos nossos cães, tão depressa dão origem a situações leves e cómicas, como pelo contrário podem ter resultados frustrantes e angustiantes no seio da convivência caseira, ou principalmente da social (externa ao âmbito familiar). Para esclarecer melhor as diferentes situações, poderão avaliar o esquema que se segue, com o essencial da sua linguagem corporal.

Dos exemplos descritos, convido-vos agora a prestarem atenção a alguns pormenores comportamentais interessantes. A sua interpretação irá ajudar ao seu enquadramento, pois apesar de qualquer de nós conseguir compreender que rosnar e exibir os dentes são sinais defensivos e de potencial agressividade, os comportamentos que se seguem poderão ser dúbios ou estarem presentes em diferentes situações:
- Bocejo – não só quando estão ensonados bocejam os nossos cães. Muitas vezes é sinónimo de desconforto e/ou face a uma situação que não compreende. Poderá apresentar um leve abanar de cauda;
- Lamber abundantemente os lábios – pode ser por apetite, mas também costuma estar associado a ansiedade/desconforto com a incerteza transmitida por nós, mas sem que esteja diretamente implicada com eles, ou seja, geralmente apenas enquanto espectadores das nossas actividades. Abanar de cauda intermitente e com movimentos mais curtos poderá estar presente;
- Cauda recolhida – pode ser por medo, como sabemos, mas também pode também significar um comportamento evasivo, particularmente se acompanhada de virar de costas e olhar de soslaio;
- “Virar a cara” – não é distração, é mesmo querer evitar alguém. Acontece muito em cães menos sociáveis, quando desconhecidos insistem em estender a mão e interagirem com eles. Abanar de cauda curto e leve pode estar presente;
- “Rodar a cabeça” – como eles ficam giros quando o fazem. Não estão indignados ou espantados, como muitos pensam, pois nesse caso costumam puxar o pescoço atrás e ficar a olhar o infinito. Este gesto costuma sim estar associado a tentativa de compreensão, como se nos pedissem “repete lá isso?”;
- Orelhas levantadas e olhar focado – geralmente está associado a hipervigilância, atenção e avaliação de potencial perigo. A cauda encontra-se geralmente hirta (poderá ter um ligeiro abanar nervoso e intermitente) e é frequente ficar com o pelo eriçado assim que identifica o “inimigo”. Poderão ter uma reação idêntica caso estejam sob comando de um jogo de “atenção – acção” (ouvindo o comando de “atenção”, esperam atentamente depois o de “ação” para agirem em conformidade). Nesta situação, não está presente abanar de cauda, permanecendo hirta, mas sem pelo eriçado;
- Andar às voltas num espaço curto – nem sempre por estar à procura de algo. Por vezes, simplesmente estão nervosos ou preocupados com alguma situação do momento presente e acabam por o demonstrar desta maneira. Abanar de cauda está presente também nesta situação.
Concluindo, vale a pena ressaltar que o famoso “abanar de cauda”, apesar de o associarmos genericamente a uma manifestação de alegria, pode estar também associado a stress, frustração ou até mesmo a “estado de alerta”! Poderão estudar estas diferenças durante a análise às manifestações comportamentais dos vossos cães, recordando-se que não devem ser compartimentalizadas mas avaliadas conjuntamente.
Conheçam e compreendam-nos, eles merecem!
Advertências: As descrições não utilizam necessariamente linguagem científica ou da gíria profissional, sendo que foram redigidas com intenção da melhor compreensão por qualquer pessoa que esteja a ler. O esquema apresentado representa comportamentos concretos, que por vezes podem ser confundidos com outros relativamente idênticos e/ou expressados em situações infrequentes. Tenha em conta que alguns comportamentos e manifestações corporais menos comuns poderão estar associados a situações patológicas de diferentes tipos, especialmente se repetitivas de forma excessiva ou desenquadradas. Caso note comportamentos invulgares ou que lhe pareçam desajustados, deverá contactar a/o sua/seu Médica(o) Veterinária(o).
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.