Numa casa com miúdos, a maioria dos progenitores já terá ouvido o seguinte pedido, emocionado e suplicante: “Podemos ter um cãozinho??? Por favor!!!”.
Quero partir precisamente desta última frase, pois nela assentam e dela partem os motivos chave para o meu apelo neste pequeno texto. A relevância da mesma prende-se com uma realidade que é, quanto a mim, preponderante para justificar a questão presente no título. Ora, o pedido encarecido dos filhos tem um significado óbvio e muito importante, o de que os pais não partilham do mesmo entusiasmo ou desejo. Obviamente, a adição de uma preocupação e despesas extraordinárias, não costumam constar da agenda de gestão da vida familiar.
Habitualmente, quem estima animais de companhia mantém, ao longo da sua vida, uma tendência de continuidade no que respeita ao hábito, alegria e prazer de levar consigo esses companheiros. Ou seja, quando essas premissas não se encontram presentes ou não são naturais à pessoa, esta deverá ponderar seriamente antes de aceder ao pedido dos seus filhos. Infelizmente, muitas vezes não se trata apenas de “aceder”, mas essencialmente de “ceder”, o que é, na minha visão, um péssimo princípio e um tremendo erro.
Aos pais que acabam por ceder, há uma enorme probabilidade de os ouvir proferir duas coisas. A primeira, dita aos filhos: “queres um bicho mas depois quem vai ter de andar a tratar dele vou ser eu, estou mesmo a ver!!!”. A segunda, partilhada com familiares e amigos: “vamos oferecer-lhe um bichinho para aprender a ser responsável”.
Não é preciso refletir muito sobre o assunto para admitir que a primeira frase é praticamente uma verdade absoluta. Já a segunda, simplesmente roça o absurdo… Sinceramente, não se pode querer (nem é expectável) que um ser irresponsável, dada a circunstância da sua imaturidade, possa assumir responsabilidade por um terceiro, por sua vez também “irresponsável”, dada a circunstância da sua natureza.
Sim, claro que é importante incutir responsabilidade nas crianças, ensinando e explicando-lhes as necessidades e cuidados a ter. No entanto, a responsabilidade por aquele animal não é dos filhos, é dos pais, exclusivamente. Por conseguinte, querer que uma criança aprenda desta forma o significado de responsabilidade é não só uma atitude irresponsável em si, mas principalmente crueldade para com os animais.
Não, a culpa do “Bobi” ter ficado sem comer no dia anterior não foi dos filhos, foi dos pais. Sim, o peixinho morto a boiar no aquário por excesso de comida também é culpa dos pais, lamento. Quem quiser atribuir esse tipo de tarefas aos filhos, tem de ter a noção que terá sempre, mas sempre mesmo, de verificar e acompanhar o cumprimento das mesmas. Trata-se de um ser vivo que é frágil e com necessidades específicas que não podem ser postas em causa em nome da “educação para a responsabilidade”.
Por fim, quero apenas recordar que um animal não é, nem deve ser, encarado enquanto “presente”. Um brinquedo pode ser um presente, pode ser usado exaustivamente e deitado fora, uma vida não. Consequentemente, além de ser importante impedir que um animal seja encarado e percepcionado como tal, é ainda imperativo explicar às crianças que ele não lhes pertence. O animal de estimação não é dos filhos, é um membro que integra a família e que merece tempo, espaço, atenção e respeito de todos os restantes membros, sem excepção.
P.S.: Um feliz Natal e recordem-se, os bichos não são pequenitos para sempre.
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