Nos últimos dias, nas declarações do Presidente da República, do primeiro-ministro e da diretora-geral da Saúde há sempre uma mesma mensagem a passar: a pandemia pode demorar muito tempo, a economia portuguesa não aguenta um confinamento longo e grande parte da solução está nas mãos dos cidadãos. Aliás, na entrevista que deu, na segunda-feira, à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa disse acreditar que se podia fazer frente à pandemia da Covid-19 e deu logo o recado, lembrando que os portugueses têm de assumir certas medidas. “Podem e devem ajudar”, frisou, alegando que o Estado dá a sua ajuda com o Serviço Nacional de Saúde e com a contratação de mais médicos e enfermeiros.
A ajuda que está nas mãos dos portugueses, explicou esta semana Graça Freitas, chama-se “bolhas”. Estas são o conjunto de duas, três, quatro, cinco ou mais pessoas que vivem na mesma casa. E são, segundo as autoridades, o núcleo com que se deve ter contacto nos próximos tempos. Isto, claro, sem contar com os contactos que têm de ser efetuados por motivos profissionais.
“A bolha é a família que mora na mesma casa. Familiares que vivem noutras casas não são da minha bolha. Da mesma forma, nem todos os colegas de trabalho são da minha bolha. Os nossos amigos não são da nossa bolha, vêm de outras bolhas que se misturam sempre que estamos juntos”, disse Graça Freitas. A propósito, Marcelo Rebelo de Sousa até avisou na entrevista que é mais perigoso receber em casa várias bolhas para jantar ou conviver do que ir ao teatro, seguindo as regras de segurança e proteção. O mesmo tinha já dito Graça Freitas. “Temos de continuar a viver. Só temos de diminuir o número de contactos, sem deixar de ir ao trabalho, à escola, ao teatro, ao cinema, ou de fazer compras.”
A ideia é aparentemente simples: pode-se viver, mas cada um dentro da sua bolha. No entanto, muitos parecem ter uma enorme dificuldade em aplicar a regra e, mesmo perante a pandemia, realizam-se eventos familiares de dez ou mais pessoas ou jantares com vários amigos. E estes são, já avisou António Costa, os grandes aliados dos vírus na sua propagação.
As bolhas, essas, são agora a arma para achatar a curva da pandemia – que em Portugal, assim como no resto da Europa, não para de crescer e infetar cada vez mais pessoas.