Uma notícia que passou quase despercebida: a Microsoft ultrapassou a Apple em valor bolsista. Sim, pelo menos na altura em que este texto foi escrito, a Microsoft era a empresa cotada mais valiosa do mundo, com uma capitalização bolsista superior a 840 mil milhões de dólares. A Apple valia 803 mil milhões de dólares, cerca de 200 mil milhões a menos do que há dois meses.
A Microsoft tem vindo a crescer de modo acelerado: há apenas três anos, a empresa liderada por Satya Nadella valia menos de metade. E terá sido a gestão deste CEO que levou a Microsoft de uma companhia que chegou a ser considerada condenada por muitos à posição que tem hoje, ultrapassando a arquirrival. Não há apenas uma razão para esta mudança no top das avaliações bolsistas. Satya Nadella teve de demonstrar ao longo destes anos que é um gestor consistente e capaz de cumprir o “master plan” que traçou para a companhia.
Mas, como sabemos, o valor das ações é, acima de tudo, uma questão de análise de potencial, de valor futuro. O que significa que, atualmente, os investidores acreditam que a Microsoft está melhor preparada para os próximos anos que os concorrentes. E nesta análise, certamente que será o cloud a principal razão do otimismo de quem investe na empresa criada por Bill Gates.
Nadella conseguiu centralizar a faturação da Microsoft em torno da subscrição de produtos e não da simples venda, o que não só garante maior constância na receita, como maior longevidade na relação com os clientes. É curioso como a Microsoft conseguiu crescer deste modo quando nem tem smartphones ou sequer um sistema operativo para concorrer com o Android e com o iOS – mas está em todos estes dispositivos através do Office e outros serviços cloud.
Há alguns anos, neste espaço, escrevia que a Apple arriscava perder competitividade se não conseguisse melhorar os serviços cloud. O iCloud começou mal e evoluiu de modo pouco abrangente. Isto porque adivinhava-se que o cloud seria o próximo grande mercado. É provável que já seja tarde demais para Tim Cook conseguir transformar a Apple numa empresa centrada no cloud. O CEO tem preferido continuar a apostar nos dispositivos móveis, com destaque para os smartphones, usando a técnica de compensar a inevitável estagnação das vendas com o aumento do preço médio.
A Apple tem, como poucos, a capacidade para entrar em outros segmentos de mercados, como é o caso dos televisores. Mas mais importante será recuperar a capacidade de criar novos mercados. Será na área da Internet das coisas (IoT)? Será na robótica/assistente digital? Será algo completamente novo? Uma coisa é certa, se a Apple quer voltar, de modo sustentável, a ser a “maior empresa do mundo”, não bastará lançar um novo iPhone por melhor que seja. Será desta que veremos a Apple a comprar um gigante? É que se há uma coisa que a Apple tem como nenhuma outra empresa é dinheiro. A Tesla é muitas vezes mencionada, mas Elon Musk dificilmente aceitaria perder o controlo da empresa… a não ser que ganhasse o controlo da Apple.