Em abril tornou-se público que as vendas da Apple tinham descido pela primeira vez em treze anos. A principal causa foi a queda das vendas dos iPhones. Tendência que se tem mantido nos últimos meses, o que torna os novos iPhone 7 especialmente importantes para a empresa liderada por Tim Cook.
No entanto, a verdade é que os novos modelos não trouxeram nenhuma inovação surpreendente. Não houve fator “uau” nem uma “one last thing”. É possível que, com a chegada ao mercado, se perceba que a experiência de utilização dos novos aparelhos com o também novo sistema operativo (iOS 10) surpreenda pela positiva. Mas não foi isso que transpareceu na apresentação de Tim Cook e companhia que, no caso do iPhone, se focou mais do que o habitual em características técnicas e menos em experiência de utilização. Dificilmente Steve Jobs falaria em “IP67”, o standard de proteção que garante que os novos iPhone 7 são à prova de água e de pó. Sobretudo porque a concorrência direta já publicita estas características há muito tempo. Nas apresentações da Apple estávamos habituados a ouvir dizer como esta ou aquela funcionalidade podiam mudar a nossa vida e só as características técnicas inovadoras tinham direto a presença em palco.
Não menos estranho foi a necessidade de os responsáveis justificarem de forma extensiva a opção de retirada do jack de 3,5 mm, normalmente usada por headphones. A antiga Apple simplesmente apresentaria esta alteração como algo “maravilhoso” (a ausência de fios). Mas Philip Schiller, um dos executivos já históricos da Apple, quase que pediu desculpas por esta opção. Pela positiva, é um sinal de menos arrogância e de uma forma diferente de tratar os clientes, até porque a Apple cresceu muito e já não tem de lidar apenas com fãs incondicionais que “pensam diferente”. Mas ficou claro: a remoção do jack de 3,5 mm foi feita com o objetivo de poupar espaço. No entanto, os novos iPhone 7 têm exatamente as mesmas dimensões dos anteriores. Ou seja, ao contrário do que sucedeu várias vezes em modelos anteriores, a Apple não consegui colocar mais em menos espaço. A saída para heaphones até pode não fazer muita falta – é fornecido um adaptador para usar heaphones tradicionais na ficha Lightning – mas era melhor que lá estivesse. Por exemplo, ainda não ficou claro se se pode carregar o telemóvel enquanto se usa auscultadores, algo que muitos utilizadores estão habituados a fazerr.
As novidades mais apelativas estão na câmara. Ou melhor, nas câmaras. Outros smartphones já usavam duas câmaras traseiras para permitir uma série de otimizações, mas o desempenho e o zoom ótico real podem fazer, de facto, a diferença para quem usa o telemóvel como câmara principal. E cada vez mais utilizadores estão a fazê-lo graças ao aumento da qualidade de imagem. Mas mesmo aqui há uma opção que pode sair cara à Apple: as funcionalidades mais inovadoras estão apenas disponíveis na versão Plus, que, em Portugal, começa nuns proibitivos 919 euros. Não é, nem nunca foi, pelo preço que a Apple vai reconquistar a quota de mercado perdida.
O iPhone 7 e o iPhone 7 Plus até podem ser os «melhores smartphones jamais criados pela Apple». Nem outra coisa seria de esperar de uma nova geração. Mas, como produtos, não têm as armas necessárias para reconquistar o mercado. A Apple terá de usar outros métodos, como acordos mais vantajosos com operadores, descida de preço dos modelos anteriores e, como parece ser o caso, uma distribuição mais rápida e geograficamente mais abrangente.