É impossível começar um novo ano a pensar que se vira uma página e que logo uma imensidão de acontecimentos bons para a humanidade irá ocorrer. Ou seja, que quando se pedem desejos com muita força e convicção eles transformam-se em realidade. Por mais optimistas que possamos ser, como é o meu caso.
O ano de 2015 deixou-nos um recorde de vergonha e é com ele às costas, a pesar na consciência (porque todos partilhamos a mesma Terra), que entramos em 2016. Têm sido meses de dores profundas para milhões de pessoas no mundo: neste momento, mais de 100 milhões necessitam de ajuda humanitária! Desde a Segunda Guerra Mundial que não se registava um número tão elevado. Entre as que foram obrigadas a deslocar-se devido a conflitos ou desastres naturais, encontram-se cerca de 26 milhões de mulheres e meninas adolescentes em idade reprodutiva (entre os 15 e os 49 anos) cujas necessidades e direitos não podem ser ignorados. Têm de se ouvidas e o seu sofrimento atenuado. São elas que estão mais expostas a infeções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV-Sida, a gravidezes indesejadas e não planeadas, a doenças e mortes maternas e a situações de violência sexual e de género…. consequências evitáveis!
É verdade que na última década se assistiu a um progresso significativo em relação à proteção na saúde e nos direitos de mulheres de meninas adolescentes em cenários humanitários, mas também é verdade que o aumento das necessidades urgentes superou os recursos financeiros e a capacidade de atuação dos serviços disponíveis. E estes são os que salvam vivas e os que devolvem vidas!
O trabalho do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) é absolutamente determinante para o futuro das mulheres e das adolescentes que se encontram nestes contextos e que são, vezes demais, incapazes de enfrentar os obstáculos terríveis do enquadramento de emergência humanitária, sendo as mais vulneráveis a episódios recorrentes de violência sexual, por exemplo. Quando mulheres e raparigas têm acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva e são beneficiadas pelos diversos programas humanitários que trabalham diariamente no sentido de eliminarem desigualdades, os benefícios das intervenções aumentam exponencialmente e permanecem após o período agudo da crise, o momento em que os países e as comunidades se reerguem e as pessoas recompõem as suas vidas. O papel do UNFPA em qualquer situação humanitária é também o de garantir que as mulheres têm acesso a serviços obstétricos seguros, independentemente das circunstâncias, protegendo a saúde da mãe e do bebé. É muito difícil de imaginar, mas no meio dos campos de refugiados e de deslocados as mulheres continuam a engravidar, a dar à luz e os bebés continuam a nascer. Em tendas, às vezes esburacadas, com fome, sede e, nesta altura do ano, com muito, muito frio.
Há apenas 20 anos, nas ações humanitárias, a saúde sexual e reprodutiva era colocada em segundo plano em relação às prioridades: água, alimentação e abrigo. Entretanto, evidências resultantes de diversas pesquisas ajudaram a colocar a saúde das meninas e das mulheres num patamar de maior visibilidade. Hoje, as intervenções em cenários de crise atendem necessidades associadas à gravidez e ao parto e procuram prevenir e eliminar vulnerabilidades.
Conclusão: há que fazer uma agenda humanitária transformadora que mude o foco da ação e da resposta para a Prevenção, Preparação e Empoderamento. Promover a Resiliência das pessoas através da educação e da saúde, gerir melhor os riscos, facilitar a efetivação da saúde sexual e reprodutiva e dos direitos, eliminar a desigualdade de género, capacitar as instituições antes da ocorrência dos desastres, lutar por um desenvolvimento inclusivo e igualitário de longo prazo. O desenvolvimento de longo prazo, que beneficia todas as pessoas, pode ajudar os indivíduos e as instituições a enfrentarem a crise e contribuir para a aceleração da recuperação.
E vêm-me à cabeça ditados populares que podem inspirar os passos certeiros – Prevenir antes de remediar, O que é barato às vezes sai caro, Não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje -, sobretudo quando sabemos que o investimento na mulher, na sua saúde e educação, é o verdadeiro investimento na família, na comunidade, no país.
E assim se poderá concertar o mundo…