André Ventura soma e segue. O seu plano de degradar e de descredibilizar as instituições democráticas está a correr às mil maravilhas. Há duas semanas foi a Presidência da República que foi enlameada com umas acusações estapafúrdias, aproveitando, claro, um tema sensível como é o nosso passado colonial. Ainda, literalmente, não tinha sido encerrado esse tema e chamou preguiçoso ao povo turco, em pleno Parlamento. Foi o dois em um: contribuía mais uma vez para a degradação do debate e o desprestígio da função legislativa e antecipava os aplausos dos camaradas do AfD com quem estaria em Madrid. Ventura é um excelente aluno da cartilha da extrema-direita populista: atribuir culpas coletivas ou atribuir caraterísticas comuns a um povo é um dos seus mandamentos principais – com as consequências conhecidas. Já o tinha feito, aliás, com o povo cigano.
Este novo episódio não passaria de apenas mais um passo no objetivo de fazer da Assembleia da República (AR) uma espécie de tasca, se a segunda figura do Estado, José Pedro Aguiar-Branco, fizesse o que devia ter feito: aplicar o Regimento da Assembleia da República, na parte – por esta altura já é mais conhecida do que o hino nacional – que diz que o presidente adverte ou pode retirar a palavra a um orador que ofenda ou injurie alguém. Mas o presidente da Assembleia da República (PAR) quis dar a sua contribuição para que todos os abusos de linguagem e desprezo pelos mais básicos direitos possam tornar-se comuns no Parlamento. De uma maneira direta, e em resposta a uma pergunta de uma deputada, disse que não cumpriria o regulamento e que ficaria mudo e quedo se um deputado afirmasse a superioridade dos brancos sobre os negros ou que a comunidade gay não passa de um bando de depravados ou que os ciganos são todos ladrões.