As preocupações com a sustentabilidade continuam na ordem do dia e fomentar comportamentos pró ambientais é um desafio. Neste âmbito, o ato de atirar lixo para o chão, nomeadamente beatas de cigarro, é ainda um tema sério por resolver.
De facto, sabe-se hoje que as beatas são o item de lixo mais recolhido dos solos (Lam et al., 2022; Ocean conservancy, 2017). Anualmente, são consumidos cerca de 5 triliões de cigarros por todo o mundo e estima-se que 80% das beatas não sejam colocadas no lixo, mas sim no chão, praias, sarjetas, atiradas pelas janelas dos carros, etc. (Muresan et al., 2018). Mas a pergunta que se coloca é: será a consciencialização ambiental suficiente para levar as pessoas a agirem de forma mais sustentável?
Quando pensamos em proteger o meio ambiente, significa que, psicologicamente, temos uma atitude pró ambiental. Mas ter uma atitude pró ambiental não significa que nos comportemos de acordo com essa atitude. Na verdade, importa notar que atitudes e comportamentos são termos diferentes. Ou seja, o facto de considerarmos que é importante cuidar do ambiente, não significa necessariamente que não iremos atirar beatas para o chão. Na verdade, apesar da maioria das pessoas constatar que a beata é um item de lixo, mais de 70% admite já ter atirado beatas no chão indevidamente (Rath, 2012; Webler, 2022).
Atitudes e comportamentos são termos diferentes. Ou seja, o facto de considerarmos que é importante cuidar do ambiente, não significa necessariamente que não iremos atirar beatas para o chão
Uma Dissertação de Mestrado realizada no Ispa – Instituto Universitário (Bento, 2020) veio sugerir que o fator mais dissuasor deste comportamento parece ser o controlo que as próprias pessoas sentem ter sobre o ato, ou seja, se a decisão de mandar a beata para chão depende ou não delas porque quanto maior a sensação de controlo, menor a probabilidade de o fazerem. Outras investigações (e.g. Novotny et al. 2009) sugerem, simplesmente, que atirar beatas para o chão é um comportamento bastante automatizado e pouco consciente.
Mas haverá então solução para este problema? A resposta é sim e parece vir de uma área de investigação em crescimento: a área do nudging, popularizada por Richard Thaler (Prémio Nobel da Economia, 2017) e Cass Sunstein. O nudge, ou pequeno empurrão em português, é uma abordagem comportamental que tem ganhado destaque na promoção de comportamentos desejados pela sociedade, sem com isso condicionar outras opções de escolha. Num cenário em que a poluição ambiental é uma preocupação global, a prevenção do descarte inadequado de beatas de cigarro pode passar pela aplicação de nudges eficazes.
Por exemplo, um estudo conduzido por Reisch e colaboradores (2017) destaca que a sinalização visual, como placas ou autocolantes com a mensagem “Descarte sua beata de cigarro aqui”, funciona como um bom incentivo para práticas mais responsáveis. Outro exemplo são estudos que “gamificam” o descarte de beatas no chão versus cinzeiros. Neste sentido, Gay e colaboradores (2023) procuraram evitar o descarte incorreto de beatas, oferecendo a possibilidade dos fumadores participarem num pequeno jogo. Ao invés de colocarem as beatas no chão, os participantes podiam escolher depositá-las num de dois cinzeiros: um, se gostava mais de cães, outro, se gostava mais de gatos. O facto de dar estas opções de escolha gamificadas reduziu a hipótese de enviar beatas para o chão.
Ao tornar mais conveniente e visível o descarte apropriado, estamos a promover um ambiente mais limpo e incentivar a mudança de comportamento em prol de um planeta mais saudável.
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