No seu dia a dia, muitas pessoas certamente se questionam: como enfrentar, com confiança e determinação, a dinâmica de mudanças e incertezas atuais no meu trabalho? Em muitos contextos, a resposta adequada pode ser a autoliderança, a capacidade de se liderar a si mesmo. Neste artigo, descrevemos brevemente como essa competência pode contribuir para melhorar o desempenho, e promover a inovação e o bem-estar no trabalho.
A pressão associada ao ritmo quotidiano de mudanças e de problemas imprevisíveis no trabalho perturba diretamente o bem-estar e a motivação dos colaboradores. A satisfação no trabalho constitui um indicador crítico desse bem-estar e pode ter repercussões no seu desempenho e produtividade. A nível pessoal, esses efeitos podem contribuir para situações como o esgotamento e a desmotivação, especialmente sob mudanças drásticas e pressão intensa no trabalho. Enquanto atitude, a satisfação no trabalho resulta quer do ambiente externo quer das qualidades intrínsecas do indivíduo, das quais a autoliderança tem vindo a destacar-se como uma competência relevante para a maior parte dos contextos de trabalho atuais.
Atualmente, é frequente os colaboradores depararem-se com situações inesperadas nas quais precisam de se adaptar rapidamente para serem eficazes, mesmo na ausência de instruções nesse sentido
Mas, afinal, o que é a autoliderança? Consiste na capacidade de uma pessoa se gerir a si própria através de um processo em que exerce autoinfluência sobre os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos no trabalho. Combina competências de autodireção e de automotivação úteis para desempenhar tarefas que são naturalmente interessantes, assim como para realizar adequadamente as que podem não ser intrinsecamente motivadoras, mas são necessárias para se alcançarem os objetivos (Neck e col., 2023).
Esta capacidade de auto-orientação pode ser adquirida e desenvolvida ao longo da vida pessoal e profissional, moldando o comportamento individual através de estratégias cognitivas, comportamentais e de recompensa adequadas a cada contexto. Por exemplo, atualmente, é frequente os colaboradores depararem-se com situações inesperadas nas quais precisam de se adaptar rapidamente para serem eficazes, mesmo na ausência de instruções nesse sentido. Muitas organizações promovem a proatividade e o espírito de iniciativa e de inovação para lidarem atempadamente com as dificuldades e incertezas que emergem nos seus processos de trabalho. Nestas situações, a autoliderança pode funcionar como uma fonte interna de liderança e como um mecanismo para concretizar as iniciativas adequadas (Harari e col., 2021).
Múltiplos estudos têm evidenciado que os trabalhadores que praticam a autoliderança tendem a alcançar, por exemplo, maior inovação, desempenho e bem-estar no trabalho (Knotts e col., 2022). No Ispa também têm sido realizados vários estudos sobre este tópico (Marques-Quinteiro e col., 2019), com resultados no mesmo sentido. Por exemplo, num estudo de dissertação de mestrado de psicologia social e das organizações (Leão, 2023), verificou-se que os colaboradores com níveis elevados de autoliderança tendem a adotar comportamentos proativos, como apoiar os colegas, contribuindo para um maior bem-estar.
Assim, para enfrentar a incerteza nos atuais contextos de trabalho, é fundamental que os colaboradores possam assumir o controlo do seu próprio desempenho e motivação para promover atitudes positivas face ao trabalho. Por isso, fomentar o desenvolvimento de competências de autoliderança pode beneficiar as organizações e, ao mesmo tempo, contribuir para a inovação e o bem-estar dos trabalhadores.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.