Num tempo em que as mudanças tecnológicas e outras têm vindo a alterar os contextos de trabalho a um ritmo imprevisível, quem não se tem questionado sobre a maneira de conciliar o nível de desempenho requerido com a sua qualidade de vida no emprego?
A nova natureza do trabalho requer que, para além do desempenho das tarefas para que as pessoas foram contratadas, se considere também a sua adaptabilidade e proatividade para lidar com a incerteza (Griffin & Grote, 2020). Mas como assegurar que as pessoas são proativas e eficazes nas novas situações que enfrentam no trabalho? A pesquisa organizacional revela que o erro constitui uma oportunidade de aprendizagem e inovação neste novo contexto. As organizações atuais precisam de ter em atenção a sua dependência cada vez maior da iniciativa pessoal e proatividade dos colaboradores. A proatividade pode, naturalmente, originar erros. Todavia, quando encarados como oportunidades, os erros permitem novas aprendizagens e novos desempenhos. Neste contexto, é importante implementar práticas de gestão dos erros que, mediante comunicação aberta e esforço coletivo de aprendizagem com os mesmos, estimulem a motivação para enfrentar proativamente o inesperado (Frese e Keith, 2015). Sem essa cultura construtiva de gestão dos erros, estes podem ser ignorados, e não se otimizam as competências das pessoas para os solucionar, optando-se por vezes pela inação.
Os resultados obtidos mostraram que tanto a existência de práticas de prestar contas como o desempenho contextual estão positiva e significativamente associados ao bem-estar afetivo
Para promoverem a proatividade, as organizações precisam de concretizar práticas que proporcionem aos colaboradores os recursos adequados à superação do erro e ao ajustamento do desempenho (Hall e col., 2017; Mero e col., 2014). Importa implementar uma cultura em que as pessoas se habituam a prestar contas por aquilo que fazem a uma audiência relevante para a sua atividade, como os líderes, os colegas ou os clientes. Deste modo, a exigência de prestar contas pelo desempenho poderá ser percebida como justa e sem resultados emocionais negativos, como ansiedade e stress.
Num estudo, realizado pela nossa equipa no Ispa junto de diversas empresas, estudámos os efeitos dessa cultura sobre o bem-estar dos trabalhadores. Concretamente, analisámos em que medida as práticas de prestar contas estão associadas a comportamentos contextuais adaptados a situações não previstas no trabalho e ao bem-estar afetivo dos colaboradores (Pato-Rosa, 2022). Os resultados obtidos mostraram que tanto a existência de práticas de prestar contas como o desempenho contextual estão positiva e significativamente associados ao bem-estar afetivo. O desempenho contextual é mais elevado, influenciando o bem-estar afetivo, quando ambos os níveis da prestação de contas e das práticas de gestão do erro são mais elevados. Verificou-se assim que as práticas construtivas de gestão do erro contribuem para que os colaboradores se sintam confortáveis para prestar contas e para adotar comportamentos de iniciativa pessoal, face a incertezas situacionais, incrementando o seu bem-estar afetivo no trabalho.
Atualmente, para conciliar os níveis de desempenho requeridos com o bem-estar afetivo no trabalho, é assim conveniente que as organizações implementem programas de desenvolvimento que contemplem a nova natureza do trabalho, e que as pessoas treinem a proatividade para fazer face às mudanças e incertezas no dia-a-dia.
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