Por cá, as últimas semanas tem sido bastante intensas – à pandemia global, juntaram-se manifestações anti-racistas e contra a violência.
Um dos temas que escuto falar bastante é o do privilégio. Para mim, esse conceito foi sempre associado a riquezas ou estatutos sociais. Porém, ao olhar para trás, teria eu, noção desse mesmo privilégio?
Eu cresci num lar modesto, na margem sul, onde assisti aos meus pais a trabalharem no duro, para conseguirem uma estabilidade financeira e emocional.
Uma grande lição que aprendi deles, foi: sem trabalho é difícil chegar aos objetivos que se quer alcançar, e ser humilde, em tudo o que se faz, é fundamental. Não sou melhor, nem pior que ninguém, mas conhecer novas pessoas, sem expectativas ou preconceitos, cria harmonia e fomenta conexão.
Mas a verdade é que nunca me senti desprivilegiado, será essa uma definição de privilégio?
Nestas últimas semanas, depois de ver imagens nas notícias e redes sociais, fico chocado ao assistir ao abuso físico e psicológico entre seres humanos, sinto-me desconfortável, e com um misto de emoções. Será que comento, será que é melhor nem falar?
A minha postura é de intenções humildes e por definição, anti-racista. Não sou melhor nem pior que ninguém, ao não falar sobre temas incómodos também não estou a ajudar muito a causa humana.
Apesar de nunca ter sido alvo de racismo, se existem outros à minha volta que o são, é da minha responsabilidade – e privilégio – apontar algo que penso humanamente errado. Simplesmente, porque o vejo como uma questão de direitos humanos.
Privilegiado ao sentir que estou a viver um momento que o futuro ditará como o momento crucial na história da humanidade, para uma humanidade mais humana.