Se há diferenças culturais com impacto entre Portugal e a Eslovénia, o Natal é sem dúvida uma das importantes. E este assunto não é específico de certeza à Eslovénia. Afinal é esta a razão pela qual disparam os preços dos voos para Portugal, os Portugueses não podem deixar de ir passar o Natal a casa. Mas a história que vos trago vai mais além.
Na Eslovénia festeja-se o Natal durante todo o mês de Dezembro. O Novembro costuma ser muito duro, com temperaturas baixas e semanas inteiras sem sol. Isto afecta qualquer um, daí que o “Dezembro Feliz” – “Veseli December” como lhe chamam por cá – é muito esperado. O dia em que se ligam as luzes de Natal nas cidades é muito celebrado, vêm todos para a rua, há vinho quente e amêndoas crocantes, música e muita animação. É em geral um tempo para nos encontrarmos com quem já não vemos há muito. A maior parte das empresas têm festa de Natal, o maior evento social do ano na empresa usualmente, e convidam as famílias com crianças para, num sábado seguinte, fazer a entrega de presentes às crianças. Esta é a tradição por cá.
A verdade é que com todas as celebrações por Dezembro dentro perde-se a espectativa pelo dia 25. Há demasiados pais natais para os miúdos. O primeiro a chegar é o São Nicolau (em Esloveno, “Sv. Miklauš”), que vem a 6 de Dezembro vestido de bispo, que traz um doce ou uma coisa pequena às crianças. Este é talvez o pai natal que deu origem aos seguintes, representando a forte tradição Católica por cá. As crianças não se importam com a simplicidade destes primeiros presentes. Os eslovenos em geral não são muito consumidores (pelo menos relativamente a brinquedos) e, crescendo neste contexto, as crianças também não esperam por muita coisa no Natal. Mas vão recebendo.
Segue-se então o “Avô Gelo” ou “Dedek Mraz” em Esloveno, comum ao Croata e muitas outras línguas eslavas. Este é talvez o Pai Natal que veio da fria Rússia, durante a temporada Comunista do Tito. Este Pai Natal veste-se de branco numa fatiota muito parecida com a do Pai Natal que conhecemos, mas branca. Traz mais uns presentes e lembra dos tempos em que não se podia celebrar o Natal religioso. Estes tempos ainda estão presentes, embora invisíveis aos turistas e a muitos residentes internacionais. Na edição #7 da Revista Sardinha escrevemos mais sobre ele (leia-a aqui: www.sardinha.tv/sardinha/sardinha7)
Porém, como o Tito detinha também uma boa relação com as Américas, o Pai Natal que conhecemos também era bem vindo. Este veste-se nas cores da coca-cola, como todos sabemos, embora essa não fosses vendida por cá. Havia uma versão jugoslava desse refrigerante chamada Kokta, que como o nome indicia, é uma variação similar (como aliás existiu em muitos outros países do antigo bloco de leste). Este último é sem dúvida o mais consumista, em pouco diferente com o que temos em Portugal, mas chega já tão tarde que tem pouco impacto. Isto faz com que a véspera de Natal seja mais dedicada a família e a ir à missa do Galo.
Como o Natal se celebra através de Dezembro, a ceia da véspera de Natal em si não é um evento com o impacto do mesmo em Portugal. A família junta-se sim, e preparam-se pratos especiais como o Sarma – carne picada enrolada em couve envinagrada e levada ao forno. E os Portugueses que cá ficam tendem a cozinhar as preciosas postas de bacalhau que ainda guardaram de alguma visita Portuguesa ou que receberam pelo correio. Mas também se como por cá bacalhau no Natal, especialmente na Croácia. Vende-se seco no supermercado para fazer uma pasta cremosa com que se barra o pão e que serve de aperitivo. Também se pode cozinhar à moda Portuguesa, mas não é de todo a mesma coisa. E não pode haver Natal sem bacalhau.