Ma-chan vai à escola
O ano lectivo tem início em abril, que coincide com o início da primavera.
Depois de regressarmos e de nos ter passado a pedrada do jet lag, também nós iniciámos um novo ciclo.
Em outubro passado, fomos procurar escolas internacionais que aceitassem crianças a partir de 1 ano e marcámos reunião com a directora de uma delas. Na altura a Ma-chan (lê-se “Má-tchan”) tinha começado a andar mas ainda estava longe de correr uma maratona.
Fomos com a disponibilidade de quem se agrada com pouco pois as opções também eram, e continuam a ser, poucas. O entendimento em inglês dá-nos total liberdade de comunicação e acreditamos que a aprendizagem de mais uma língua será uma mais-valia para a nossa filha.
Deram-nos três condições para a podermos inscrever naquela escola:
1) Não pode beber leite (nem com biberão, nem sem)
2) Tem de dar, pelo menos, 10 passos sozinha
3) Quer tenha dentes ou não, o almoço é igual para todas as crianças.
Estranhámos mas pensámos “Bom, isto é o Japão, as regras são outras e quem tem de se adaptar somos nós.” Ficámos de fazer a pré-inscrição e de esperar pelo início de novembro, tempo esse que faria com que os ‘treinos de caminhadas’ lhe dessem mais estabilidade a andar.
Em novembro fomos visitar a escola e subimos as escadas até ao terceiro andar (não há elevador) para assistir a meia hora de aula na suposta futura sala dela. Era num cubículo de sala com as janelas em corrente de ar que tudo se iria passar. Chegando cá abaixo, ao verem a Ma-chan com chucha, disseram-nos que não era permitido usar chucha na escola (nem para dormir) e que, pelo que analisaram, ela ainda não andava o suficiente (10 passos?) pois sempre que desciam para ir ao jardim as crianças teriam de ir a caminhar. Uáu!
E mais, ao fim de cada dia, as fraldas usadas seriam entregues aos pais.
Voltariam lá? Nós também não.
Com a primavera, as flores desabrocharam e as nossas opções também.
Visitámos outra escola internacional no centro da cidade e saímos de lá a suspirar de alívio.
“É esta!” E foi.
A escola onde inscrevemos a Ma-chan, cujo ensino vai desde 1 ano até aos 12, agrega inúmeras nacionalidades e um denominador comum que é a língua inglesa. A infant class da nossa portuguesa tem meninos japoneses, brasileiros, espanhóis, ingleses, indianos e se calhar mais uma ou outra nacionalidade que me estão a escapar.
Curiosamente, assim que se chega perto da escola de mão dada com um ‘fardadinho’ os sorrisos rasgados e o good morning são práticas diárias. Toda a gente se fala descontraidamente como se de uma comunidade se tratasse.
E é nesta comunidade em que estamos inseridos que vamos direcionando o nosso futuro, com as nossas raízes em Portugal e os nossos ramos no mundo.
Eu: “Madalena, queres mais água?”
M: “iiiiii” (não, em japonês)
Eu: “Um, dois,…”
M: “Trê”
Eu: Olha, diz adeus aos senhores!
M: “Bye, bye!!!”
VISTO DE FORA
Dias sem ir a Portugal… 25
Nas notícias por aqui… com a afronta constante da Coreia do Norte, o Japão ganha cada vez mais apoiantes para que voltem a ter tropas de ataque. Após a 2ª guerra mundial o Japão passou a ter um exército passivo, tendo como principal aliado os Estados Unidos.
Sabia que por cá… todas as crianças que entram na escola têm de comprar um
Bosaizukin, uma espécie de almofada para proteger a cabeça em caso de terramoto.
Um número surpreendente: 10 em cada 100 mulheres japonesas optam por levar a anestesia epidural. Há 10 anos atrás era administrada apenas a 2 em cada 100. A maioria dos hospitais públicos nem sequer tem essa opção.