A criança que entra no mar, sem ondas e com pé, atira com água, chapinha, grita e ri, ri ao sol – é feliz. A felicidade não é um estado, psicológico ou outro, nem um sentimento ou emoção particular. É uma abertura total do corpo ao espaço, aos outros, ao cosmos. Não é um afeto, mas é uma disposição para viver todos os afetos da maneira mais intensa.” (José Gil, em Os Poderes da Pintura, Relógio D’Água, 2015)
A criança (e o adolescente) entra pelo mar dentro e o seu corpo é submerso pela água mais ou menos fria, muitas vezes tranquila e de baixa ondulação. A mudança de temperatura, tal como a estação do ano que é já outra, fá-la reagir, o corpo simultaneamente encolhe-se e estica-se, o frio torna-se (quase) impossível de dissociar de um estado de felicidade que se instala. Depois, mergulha, aparece e desaparece num jogo simbólico a que, há mais de 100 anos, Freud chamou “bobine”. Então, como um bailado sobre música atonal, ela move-se a ritmos diversos, diante de uma outra resistência, num novo espaço, num tempo que é já futuro.