António Costa, o derrotado, está transformado em António Costa, o desbloqueador. Depois de uma campanha eleitoral em que pareceu andar distraído e só cometer erros, o experimentado político voltou e já passou de principal vencido a cabeça de cartaz. A tática: jogar em dois tabuleiros para tentar vencer em três.
O primeiro – e que já funcionou – é o interno ao PS. Apesar da derrota nada poucochinha, foram raros os que lhe pediram satisfações pelo mau resultado, contrastando com o destino que ele próprio impôs ao seu antecessor. Ao colocar-se no centro da solução para o País, Costa adiou qualquer confronto interno.
Marcou este combate para depois das presidenciais, quando houver novo congresso. Curiosamente, nessa altura já deverá estar a confrontar-se com uma segunda derrota, a menos que os vaticínios atuais que apontam para a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa saiam furados. Ele sabe-o, como sabe que precisa de estar muito forte por essa altura. E nada lhe dará mais força junto das hostes socialistas do que passar de vencido a vencedor nas legislativas que perdeu. Difícil, mas não impossível.
O segundo objetivo é o de, no mínimo, balizar o poder da coligação à sua direita. Hoje já está claro que se PSD e CDS forem poder a ele o devem. E dele ficarão dependentes para o conservarem. Costa não deixa cair pontes. Na Câmara de Lisboa conseguiu transformar uma minoria em duas maiorias absolutas. À esquerda, fez alianças com Helena Roseta e o seu movimento, namorou o PCP quando estava em minoria, teve Carlos do Carmo na segunda campanha e colou-se a Saramago; à direita, conseguiu viver conciliado com Paula Teixeira da Cruz, construiu amizade com Rui Rio e Rui Moreira. A cereja no bolo foi a compra pelo Estado dos terrenos do aeroporto e o alívio financeiro que assim conseguiu para os depauperados cofres municipais.
Perante este negociador experimentado, Passos e Portas sabem que não terão uma vida fácil se dependerem do PS para ficarem no Governo. Resta ver até onde estarão dispostos a ceder.
O último dos desígnios, e que parece ser o que mais o mobiliza, é de ser primeiro-?-ministro desde já. Percebe-se agora porque usou na campanha um discurso que o aproximava da Esquerda, deixando sem resposta os comentadores que o criticavam por estar a perder o centro. Bem lhe diziam que é ao centro que se ganham eleições, mas Costa queria mais do que uma vitória nas urnas – queria o poder. Preparou o terreno para que, se votos não lhe bastassem, pudesse ter novos aliados. Por enquanto está a resultar. Ele sabe que 90 por cento dos portugueses não querem o Bloco e que mais ainda não querem o PCP, como salientou Pires de Lima. Ou seja, sabe que 81% dos eleitores não votaram nos partidos à esquerda do PS; mas também quer tirar proveito do facto de 63%, quase dois terços dos eleitores, terem rejeitado a aliança à direita dos socialistas. É aí que ele joga.
Navegando nestas águas agitadas, o líder socialista deixa o País suspenso das suas decisões. À saída das diversas reuniões não afasta hipóteses, ensaia um discurso construtivo, mostra-se como o homem do momento. Adia, não tem pressas, deleita-se com as expetativas que cria.
Seja qual for o Governo que vier a tomar posse, ele terá o dedo de António Costa e, muito provavelmente, o tempo de vida que mais convier aos desígnios do líder socialista. Pode forçar a queda; pode deixá-lo arrastar-se. O seu calculismo determinará.
O maior risco que corre é o de ser levado a referendar a solução, como cada vez mais vozes pedem. Se o fizer, repetindo a atitude de Mário Soares em 1983, antes de avançar para o Bloco Central, terá obrigatoriamente de vencer. Não aguentará uma derrota.
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