A magnetogenética é uma técnica que usa campos magnéticos para controlar a atividade de células. Este processo é possível através de uma alteração no material genético da célula que queremos controlar e, a partir daí, passa a existir uma resposta específica quando esta é exposta a campos magnéticos. Tudo isto pode parecer meio genérico e, caso estejam a perguntar-se sobre qual será a sua aplicação prática, posso dizer que saiu muito recentemente um artigo sobre o seu uso em moscas. Sim, isso mesmo, um grupo nos Estados Unidos usou campos magnéticos para controlar moscas.
Entremos na parte científica. O material genético das moscas foi modificado para que passassem a produzir uma proteína que é sensível ao calor. Depois disso, foram injetadas no cérebro destes insetos nanopartículas que convertem uma variação no campo magnético em calor. Assim, quando sujeitas a uma variação de campo magnético, as nanopartículas produzem calor, o que ativa a proteína de que falei. A partir do momento em que é ativada, esta proteína gera uma resposta que se traduz em atividade cerebral. É importante dizer que esta dita proteína já existe no cérebro das mosca se já produz uma resposta cerebral quando sujeita a um aumento de temperatura, mas demora 10 segundos a produzir essa resposta. A alteração genética que foi feita substituiu a proteína que existe por uma quase idêntica, mas que produz uma resposta em cerca de 0.5 segundos.
Ao sujeitar as moscas a alterações no campo magnético, estes investigadores conseguiram que elas fizessem movimentos de extensão de asas ou as movessem de um lado para o outro. Estes movimentos eram o objetivo do estudo, mas de futuro, é possível que a complexidade das experiências aumente e se estudem movimentos mais elaborados. Há ainda a possibilidade deste tipo de estudos ser alargado a animais mais complexos, como sapos, galinhas ou cobras.
O uso destes métodos em humanos está ainda muito longe, mas é possível que venha a ter um papel importante na resolução de doenças que afetam o cérebro, não só doenças neurodegenerativas, mas até cegueira. Teoricamente, através da estimulação de certas regiões do cérebro, é possível resolver problemas de cegueira sem que os olhos façam a sua função. Claro que isto pode abrir precedentes para a manipulação cerebral, o que pode parecer assustador para muitos. Ainda assim, deixo ao critério de cada um se o benefício pode superar o risco e se este tipo de técnicas pode ou não ser uma mais-valia no nosso futuro.
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