Um dos conceitos que mais esta na moda é o de excelência: as empresas devem procurar a excelência, os trabalhadores devem ser excelentes, os estudantes, desde a primária, devem ambicionar a excelência.
Há quem diga isto com tanta convicção, que até parece óbvio e fantástico que esse seja o lema da modernidade.
Mas, se olharmos com mais atenção para a questão, vamos ver que a busca pela excelência tem muito que se lhe diga. Em particular, um foco obsessivo na excelência é prejudicial para uma vida feliz.
E há muitas razões para isso.
Primeiro, atingir a excelência dá muito trabalho, logo, custa muito. Esse desgaste todo é inimigo da felicidade (vejam-se os crescentes casos de burnout, no trabalho e também já nas escolas, ou o desgaste do planeta pelo querer-se sempre mais e melhor). Depois, a excelência é sempre relativa. Por definição, não podemos ser todos excelentes ao mesmo tempo (excelentes são só os melhores), e o que ontem era excelente, hoje já não é. A tudo isto se liga o problema das expectativas: se temos a excelência como padrão, ou ela nos é imposta, viveremos num constante frustrar de expectativas, o que gera infelicidade.
A busca pela excelência é, ainda, inerentemente competitiva e hierarquizadora, o que faz com que muitos sejam derrotados para uma minoria ser a vencedora (a que, efectivamente, atingiu a excelência). Isso constrange a felicidade da sociedade.
Temos um ditado que diz “o óptimo é inimigo do bom”. E é precisamente assim. Devemos procurar fazer bem as coisas. Mas uma sociedade obcecada com a excelência é uma sociedade insustentável e infeliz.
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