Sinto alguma empatia pelos activistas do grupo Climáximo, porque me lembram o meu filho de 3 anos: também não podem brincar com tintas sem supervisão, que dá asneira. Do mal, o menos, o meu limitou-se a pintar a Porquinha Peppa e o seu irmão George no sofá da sala. Já os activistas do clima têm como projectos mais recentes: pintura de Fernando Medina a verde e segunda demão na obra Femme dans un Fauteuil, de Picasso, com tinta vermelha. Mas não se pense apenas que os guaches devem ser usados sob supervisão de um adulto, também os tubos de cola não devem ser deixados ao alcance dos mais novos: noutro dia, fomos dar com um deles colado a um avião. Mais uma semelhança com o habitante mais novo cá de casa: também ele já incomodou inúmeros passageiros em travessias aéreas, nomeadamente daquela vez em que chorou ininterruptamente de Lisboa a Paris. Da mesma forma que já interrompeu peças de teatro. Não no São Luiz, como fizeram os Climáximo há dias, mas melhor ainda: na Aula Magna, quando se levantou para gritar: “Mamã, a Masha é um anão com peruca!” Se quisermos falar de má conduta em espaços comerciais, ele também tem para a troca. Nunca partiu a montra da Gucci na Avenida da Liberdade, mas já danificou uma prateleira da Imaginarium. Só lhe falta uma boa interrupção do trânsito na Segunda Circular para poder enviar o seu currículo para a Climáximo.
Creio que vão dar-se bem porque, mais do que esta urgência de chamarem a atenção, têm a mesma incapacidade de explicar aos crescidos o que é que pretendem, ao certo. Desde logo, porque decoraram palavras que ouviram algures, e lançam-nas a despropósito, por tudo e por nada. No caso da minha criança, a palavra do momento é “badalhoca”, para grande vergonha dos seus pais, no da Climáximo foi “genocídio”, para grande vergonha dos pais deles. “A crise climática é um genocídio”, dizem eles, que criticam ainda a “indústria genocida da aviação” e acusam “o Governo e outras empresas” de serem “culpados de genocídio”. Dizem que estamos em “estado de guerra”, comparam as cheias a crimes de guerra, a construção de aeroportos à criação de campos de concentração, e falam em desarmar os agressores, através da neutralidade carbónica. Ora, isto, no momento em que assistimos ao que se passa na Faixa de Gaza ou na Ucrânia, parece, de facto, uma brincadeira de crianças. Eu compreendo, o meu filho também brinca à guerra de almofadas, sem perceber o que é uma guerra a sério. Mas a maior parecença entre este miúdo de 3 anos e os activistas de 20 é a dificuldade em apresentar propostas razoáveis. “OK, já fizeste birra, já todos perdemos tempo com isto, agora que estás mais calmo diz lá quais são as tuas reivindicações… Jantar gelado todos os dias? Isso é absurdo! Financiar a transição energética com um novo escalão do IRS, que taxa os rendimentos superiores a €150 000/ano em 99%?! Noventa e nove por cento?! Pronto, podes comer Viennetta todos os dias, não se fala mais nisso…”
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