Claro que me lembrei logo do filme Antes do anoitecer.
Estava a participar numa conferência em que se debatia a reparação dos males do Império, Devíamos pedir desculpa aos povos que colonizámos? Eu insistia em defender que qualquer injustiça tem de ser denunciada e corrigida, Mas de que maneira?, perguntava a moderadora, tentando travar a minha falta de concisão. Chegada há menos de duas horas a Genebra, levantara-me muito cedo para fugir ao trânsito da A5, quase não comera nada entre esperas no aeroporto, voo, táxi, check-in no hotel, Antes de mais sem o paternalismo do colonizador, respondi. Quando falo em público, tento não prestar atenção a quem está a assistir. Se o meu olhar se demora na massa informe que a miopia molda, perturba-me adivinhar as reações que as minhas palavras podem provocar, os trejeitos de discordância, expressões de incompreensão, de impaciência ou de enfado.