Calcula-se que as mulheres em Portugal trabalham em média mais duas horas por dia do que os homens no apoio à família e nas tarefas domésticas. O chamado trabalho reprodutivo, apesar de não ser valorizado nem remunerado, é de incalculável importância. Desde logo porque, de um ponto de vista totalmente economicista, cria a mão de obra do futuro, mas também porque presta cuidado aos mais frágeis e está ao serviço da comunidade, contribuindo para o bem-estar de todos. A questão é que este trabalho sem horário, nem salário, não contribui para o bem-estar das próprias mulheres, sendo até prejudicial para a sua qualidade de vida. Sem esquecer que, na maioria das vezes, coexiste com o percurso profissional, no qual estão em desigualdade de oportunidades com os pares, pela desvantagem competitiva que o desgaste e as exigências do trabalho doméstico fazem acumular.
No grupo das mulheres sobrecarregadas, as mães são as mais exaustas. Para dar um exemplo, um ano de amamentação corresponde a cerca de 1 800 horas de dedicação, o que não fica muito longe das 1 960 horas anuais de um trabalho a tempo inteiro, sendo que amamentar é apenas uma das infinitas tarefas que recaem mais sobre as mães. E obviamente que todo o desgaste físico da gestação, do parto e do puerpério, pesa particularmente, misturando-se com o cansaço do dia a dia, numa bola de neve de privação do sono e falta de autocuidado.