Um espaço apenas separa os dois atributos no título deste texto: mal ditas e malditas, e eu decidi usar este pequeno trocadilho para lhe falar de duas grandes qualidades que, do meu ponto de vista, sustentam uma comunicação eficaz: o rigor e a empatia.
É raro o momento das nossas vidas em que estamos longe das palavras. Porém, será que sabemos fazer um bom uso e um uso bom das palavras sempre que comunicamos?
Começo pelo predicado mal ditas. Aqui refiro-me ao rigor e à sua importância na comunicação. Hoje em dia, e mais do que nunca, a competência linguística assume um valor sociocultural de relevo, promovendo aceitação e credibilidade. Erros linguísticos como “póssamos”, “tu fostes”, “a gente vamos” podem comprometer o nosso sucesso profissional, arruinar a nossa imagem e fazer-nos perder, em poucos segundos, um bom relacionamento ou uma boa oportunidade de negócio.
Quem nunca deu um pontapé na gramática que atire a primeira pedra, mas em contextos formais de comunicação devemos ter, efetivamente, uma atenção redobrada. Se pretendemos projetar uma imagem profissional credível, a nossa comunicação deve ser implacavelmente clara e, sobretudo, deve ter um elevado padrão de excelência linguística.
Falar e escrever com correção linguística dá-nos, seguramente, credibilidade e aceitação, mas não é apenas o rigor que contribui para uma comunicação eficaz. Muitas vezes, não conta tanto o que dizemos, mas a forma como o dizemos.
É tempo de refletir agora sobre o segundo predicado – malditas – e sobre o poder das nossas palavras. As palavras têm um poder tremendo. Há palavras que edificam, outras que destroem; umas trazem bênção, outras, maldição. E é entre estas duas balizas que a comunicação vai moldando a nossa vida.
Vários estudos na área comportamental mostram que existe uma íntima relação entre as palavras e as nossas emoções. Palavras de carga positiva despertam no outro emoções positivas e emoções positivas, por sua vez, geram bons comportamentos. Do mesmo modo, palavras de carga negativa despertam emoções negativas e emoções negativas podem desencadear maus comportamentos. Por exemplo, sempre que recebemos uma mensagem calorosa, repleta de palavras afetuosas que nos alegram o coração, isso é o suficiente para tornar o nosso dia mais feliz. Quando alguém nos faz um elogio: “És uma inspiração, um tesouro”, sentimos uma satisfação imensa. Estas palavras são raios de sol que nos aquecem a alma e nos enchem de alegria.
Pelo contrário, sempre que recebemos uma crítica, um reparo desagradável, ficamos desanimados, tristes ou até irados: “O seu trabalho está péssimo”; “És um imbecil, nunca fazes nada bem”. São palavras amargas como estas que nos cortam como uma faca, desferindo golpes severos na nossa alma. “As palavras não têm nem pontas, nem corte, mas podem ferir o coração de um homem”, diz um antigo provérbio tibetano.
Partilho consigo uma situação que me aconteceu há algum tempo. Era um domingo soalheiro e eu estava num almoço de família num restaurante regional. Um familiar meu chamou o empregado e disse-lhe:
Olhe, desculpe, queria fazer uma reclamação: este leitão é só osso. Podia trazer por favor mais um pouco?
Ouvi esta frase e gelei. Depois de o empregado se afastar, adverti o meu familiar para o seguinte: ao pronunciar a palavra reclamação, criamos de imediato uma barreira de cimento com o nosso interlocutor. Se ele estiver mal-humorado, provavelmente responderá “Lamento, o leitão já acabou.”
Tenho plena convicção de que se o pedido fosse feito com empatia, haveria uma maior probabilidade de o mesmo ser aceite. Ora veja:
Sr. João, acha possível trazer mais um bocadinho de leitão? É que esta dose vinha um pouco mal servida…
Conhece o ditado “não se apanham moscas com vinagre”?
Se desejamos relacionamentos pessoais e profissionais mais saudáveis e felizes, evitemos o uso de palavras malditas e usemos generosamente palavras positivas. E não nos cansemos de elogiar. Palavras de louvor e honra trazem felicidade não só a quem as recebe, mas também, e sobretudo, a quem as oferece.
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