Nos últimos anos, tem-se observado um aumento na oferta de consultas de avaliação gratuitas e que, muitas vezes, incluem tratamentos dentários, como a higiene oral, por clínicas e consultórios de medicina dentária em Portugal. Embora esta prática possa parecer atractiva para os pacientes e contribuir para a captação de novos clientes, é importante analisar as implicações éticas e deontológicas com base no Código Deontológico da Ordem dos Médicos Dentistas de Portugal.
Benefícios e desvantagens para os pacientes
A oferta de consultas de avaliação gratuitas pode proporcionar benefícios imediatos aos pacientes, principalmente para aqueles com dificuldades financeiras ou com acesso limitado a cuidados dentários. No entanto, esta prática pode gerar preocupações quanto à qualidade dos tratamentos oferecidos e à possibilidade de incentivar a realização de procedimentos desnecessários.
Efeitos na relação médico-paciente
Uma das principais preocupações em relação a esta abordagem é o possível impacto na relação médico-paciente. A oferta de tratamentos gratuitos pode criar uma relação comercial, em vez de uma relação baseada na confiança e no cuidado. Isto pode levar a uma diminuição na qualidade dos serviços prestados e na satisfação do paciente.
A importância da ética e deontologia na medicina dentária
O Código Deontológico da Ordem dos Médicos Dentistas de Portugal estabelece os princípios e valores que regem a prática profissional, incluindo a proteção dos interesses dos pacientes, a qualidade dos cuidados e a integridade profissional. A oferta de consultas de avaliação gratuitas, muitas vezes com higiene oral incluída, pode colocar em risco esses princípios, ao enfatizar o aspecto comercial da medicina dentária, em detrimento da ética e da deontologia.
Recomendações para equilibrar a captação de pacientes e a integridade profissional
A fim de garantir que a oferta de consultas de avaliação gratuitas com tratamentos dentários incluídos não comprometa a qualidade dos cuidados e a ética profissional, é importante considerar algumas medidas, como:
- Estabelecer critérios claros para a oferta de consultas de avaliação gratuitas e tratamentos dentários incluídos, assegurando que esta prática seja aplicada apenas em casos específicos e justificados;
- Garantir a transparência e a honestidade na comunicação com os pacientes, esclarecendo os objetivos e limitações dessa oferta;
- Priorizar a qualidade dos cuidados e a satisfação do paciente em todas as situações, independentemente da oferta de tratamentos gratuitos;
- Procurar aperfeiçoamento profissional constante e aderir aos princípios éticos e deontológicos estabelecidos pela Ordem dos Médicos Dentistas de Portugal.
A oferta de consultas de avaliação gratuitas e muitas vezes com tratamentos dentários incluídos pode ser uma estratégia de captação de pacientes, mas é fundamental analisar as implicações éticas e deontológicas desta prática no contexto da medicina dentária em Portugal.
Enquanto médico dentista não adoto essa prática na minha clínica, pois prezo pela qualidade dos cuidados e pela relação médico-paciente baseada na confiança e no cuidado. Ao seguir as recomendações apresentadas e aderir aos princípios do Código Deontológico da Ordem dos Médicos Dentistas de Portugal, os profissionais podem garantir a manutenção da qualidade dos cuidados e a integridade da profissão, sem comprometer o bem-estar dos pacientes e a relação médico-paciente. Desta forma, é possível equilibrar os interesses comerciais e a responsabilidade profissional indo de encontro a um serviço de medicina dentária ético, deontologicamente correto e focado na satisfação do paciente.
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