E, de repente, já passou o Natal.
Seria interessante arriscar o que as pessoas da mediação imobiliária gostariam de ter tido debaixo da sua árvore de Natal na noite de consoada… eu arriscaria dizer que “receber contactos” seria o presente ideal!
Sendo um negócio de pessoas para pessoas, é na capacidade de despertar, construir e nutrir cada vez mais relações para receber cada vez mais contactos que se devia focar muito do que desejamos para 2023. Afinal, é no contacto que nasce a oportunidade de ajudar pessoas a vender, comprar ou arrendar.
E falando de desejos para 2023, nada melhor do que um balanço para projetar o que está ao alcance de cada um para continuar a fazer crescer o imobiliário:
Promoção Imobiliária
Depois de ouvir, por inúmeras vezes, muitos promotores deste País, e não só, as projeções para o próximo ano são positivas e parece que têm um caminho fácil no que diz respeito à procura. Parece, mas é de extrema dificuldade e resiliência de execução quando se pensa, por exemplo, em licenças de construção que saem, mas que ainda demoram a sair, e não estamos a falar de meses, mas, na maioria das vezes, de anos – tempo, que para além do transtorno, impacta o resultado do projeto de promoção e consequentemente os preços dos imóveis que afetam depois grande maioria das pessoas que não os conseguem comprar. A escassez continua e prevê-se que continue para vários segmentos de mercado neste País que não conseguem chegar ao produto pela barreira do preço. Há que criar condições para que a promoção olhe para outros segmentos como um negócio viável. Afinal, ninguém está no mercado para perder dinheiro.
Mediação Imobiliária
Claramente que é uma atividade que tem vivido momentos de grande expansão e inevitáveis lucros, contudo, e sempre generalizando, esta expansão continua a ser feita sem bases de sustentação, ou melhor dizendo, sem lei. A legislação no setor parece-me insuficiente e ineficaz porque continua a não ser capaz de abranger vários problemas ao nível de conflitos com clientes e também entre profissionais do setor. Para além da lei, e muito por culpa da promessa de muito dinheiro sem grandes barreiras à entrada, que avaliem se de facto estas pessoas têm as capacidades e características para servir este setor, continua a imperar a falta de profissionalismo. Para agentes imobiliários que se iniciem na atividade, não existe qualquer tipo formação obrigatória para além da formação que cada marca exige (muitas não o fazem) e não existe um código de ética aceite e assumido por toda a classe para penalizar quem não o siga. São as pessoas que lidam com esta atividade todos os dias que iriam reconhecer e valorizar o benefício de melhoria do nível de serviço, e é este reconhecimento que torna a atividade relevante.
Avaliação Imobiliária
Apesar de não ter falado tão regularmente com muitos avaliadores este ano, mas tendo feito alguns trabalhos de consultoria imobiliária, uma das diversas situações que a avaliação imobiliária aponta como ameaça é sem dúvida a falta de informação coordenada, ou seja, a informação de valores de venda dos imóveis de forma centralizada, imediata e, claro, real. Não me parece difícil, até porque a informação existe, as transações são públicas e hoje o tema tecnologia já não é desculpa, pois ela existe. Bastava realmente fazer com que todos os relatórios emitidos pelo INE – Instituto Nacional de Estatística fossem disponibilizados em tempo útil tal como já é feito por exemplo em Espanha. Nos dias de hoje, falar em ganho de tempo útil é falar no imediato, é poder, neste caso, ter acesso em qualquer lugar e a qualquer hora através da internet a uma informação transparente e útil beneficiando não só os avaliadores na melhoria da sua atividade, mas todas as pessoas que dela dependem e para quem o fator tempo é igualmente precioso.
Investidores Imobiliários
Estes últimos beneficiariam das oportunidades de melhoria anteriormente citadas porque teriam mais segurança no seu investimento. Investiriam mais, pois não só o risco seria mais atenuado, como também as margens de lucro seriam potencialmente maiores. Contudo, há aqui hipóteses de melhoria que dariam um belo presente natalício para estes players do setor imobiliário, como por exemplo, o desbloqueio das atualizações das rendas, atualmente a 2%, uma melhor lei do arrendamento que atuasse, por exemplo, no prazo no despejo e tornasse o arrendamento mais justo e dinâmico para todos e não só para um lado. Também a não mexida dos Golden Visa seria uma ótima novidade para fazer com que Portugal continuasse a ser opção para muitos investidores estrangeiros em 2023. Independentemente de saber que este programa representa apenas um nicho de mercado, é um programa que tem sido muito positivo para muitas pessoas.
Para finalizar, há um presente que acredito que fosse desejado por todos e que afeta o fulcro deste setor, estamos a falar da redução da carga fiscal. Desde o IMT ao IVA, existe muito para repensar estrategicamente e fazer. Será apenas necessário querer atuar com determinação e coragem para que este setor não continue a ser aquele a que o Estado com mais facilidade vai buscar receita. Afinal, os imóveis são fixos e são também uma necessidade primária para particulares e empresas.
Ainda uma última nota que afeta as pessoas do setor e as pessoas no geral: a falta de ordenamento do território e visão estratégica para as suas várias regiões, avaliando o potencial que cada uma pode ter e contribuir para um Portugal mais forte e maior e não apenas para um Portugal que é apenas Lisboa, Porto ou Algarve.
Em períodos em que o futuro é incerto, será necessário criar atratividade e alternativas que sirvam as necessidades e os desejos das pessoas, não só para oferecer no Natal, mas para presentear o ano todo.
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