O senhor primeiro-ministro António Costa veio anunciar que no próximo mês de maio será apresentado um programa de recuperação de aprendizagens – Plano de Recuperação de Aprendizagens 21/23 – com esse meritório objetivo de que não fique perdido tudo o que os alunos deveriam ter aprendido (e não aprenderam, portanto), devido à pandemia. De imediato, toda a opinião pública espalhou esta informação aos sete ventos e nós, professores, uma parte interessada nesta equação, questionámo-nos uns aos outros: alguém te perguntou algo sobre este assunto? Foste chamado a propor algum plano de recuperação? Abordaram o assunto na reunião de grupo disciplinar, na reunião de conselho pedagógico, recebeste algum mail vindo lá de cima em que te pedissem propostas para esta milagrosa recuperação das aprendizagens? E todos os meus colegas com quem falei – e foram muitos – responderam o mesmo. Ninguém sabia de nada.
Fui tentar compreender melhor tudo isto. De facto, o governo anunciou recentemente – na figura do senhor secretário de Estado adjunto e da Educação, João Costa – a criação de um grupo de trabalho multidisciplinar para apresentar recomendações sobre a forma de combater os efeitos da pandemia na aprendizagem dos alunos. Deste modo, ficámos a saber que um conjunto de peritos e consultores formalmente nomeados terá como missão produzir um conjunto de recomendações ao Governo. Esta equipa multidisciplinar inclui personalidades como a coordenadora nacional de um estudo da Organização Mundial de Saúde sobre comportamentos e saúde mental dos adolescentes, uma representante da Ordem dos Psicólogos, uma economista da Universidade Nova, o coordenador do Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar assim como professores e diretores de escolas de várias zonas do País. Parece sair reforçada a ideia de que há agora a fazer um enorme esforço de recuperação de aprendizagens uma vez que nada parece substituir o ensino presencial. As recomendações desta equipa multidisciplinar de especialistas deverão ser conhecidas muito em breve. Vários estudos realizados vieram mostrar que o estado das aprendizagens nas três áreas analisadas – literacia científica, literacia da leitura e da informação e literacia matemática – deixa muito a desejar. O estudo Diagnóstico das Aprendizagens do IAVE revelou ainda dados preocupantes: a maioria dos alunos não conseguiu atingir os níveis esperados em conhecimentos elementares nas diversas áreas. Uma grande surpresa, como sabemos!
Nada a opor, até aqui. No entanto, se quiserem eficácia nas vossas recomendações, falem com quem está no terreno há trinta anos e escutem atentamente as nossas propostas. Caro primeiro-ministro, caro secretário de Estado adjunto, cara equipa multidisicplinar, não se cansem tanto. Não percam mais horas intermináveis a discutir o que nós sabemos há muito. O único plano para a recuperação e a consolidação viável das aprendizagens dos alunos é constituído por quatro medidas principais:
1- Reestruturação / Diminuição da extensão dos Currículos das disciplinas fundamentais para prosseguimento de estudos;
2- Redução drástica do número de alunos por turma;
3- Criação de horários por turnos (manhã para disciplinas teóricas e tarde para disciplinas de caráter prático);
4- Valorização da Profissão Docente com medidas palpáveis que promovam o papel do professor junto da opinião pública.
Sem estas quatro medidas, acreditem em nós: tudo o que vierem propor será apenas outro gato escondido com o rabo de fora.